Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram um palco central para discussões sobre saúde e imagem corporal. Uma pesquisa recente realizada pela farmacêutica Merck, em parceria com a consultoria Ilumeo, revelou uma tendência preocupante: a associação entre Obesidade e sentimentos negativos nas plataformas digitais. Este estudo, que analisou mais de um milhão de postagens em redes como Instagram, Twitter e TikTok, destacou que 54% das menções à Obesidade eram negativas, utilizando termos como “nojo” e “preguiça”.
Essa análise sugere que, enquanto movimentos de aceitação corporal perdem força, o “body shaming” ressurge, evocando padrões de beleza tóxicos do passado. A pesquisa aponta que 46% das postagens negativas estavam relacionadas à autoestima e autoimagem, indicando um retrocesso nas discussões sobre diversidade corporal. Influenciadores e celebridades muitas vezes perpetuam a ideia de que o corpo gordo é um “erro a ser corrigido”, contribuindo para a romantização do emagrecimento a qualquer custo.
Por que a Obesidade ainda é estigmatizada?
A Obesidade é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma doença crônica, mas ainda enfrenta estigmas significativos. Muitas vezes, é vista como uma falha de caráter, o que leva a julgamentos e preconceitos. O endocrinologista Cristiano Barcellos destaca que, ao contrário de outras doenças crônicas como diabetes ou câncer, a Obesidade é frequentemente tratada com desdém, mesmo quando os pacientes buscam tratamento.

O uso de medicamentos para tratar a Obesidade também é alvo de críticas. A pesquisa revelou que 56% das menções a remédios para Obesidade eram negativas, sugerindo que o tratamento é visto como uma “fraude”. Essa percepção errônea pode desestimular pessoas a buscar ajuda médica adequada, perpetuando o ciclo de estigmatização e desinformação.
Como as redes sociais influenciam a saúde mental e alimentar?
Conteúdos virais nas redes sociais, como vídeos de “Mukbang” ou áudios que exaltam a magreza, podem ter um impacto negativo na saúde mental e alimentar dos usuários. Esses materiais não apenas banalizam transtornos alimentares, mas também influenciam escolhas alimentares pouco saudáveis. Estudos indicam que a exposição a esses conteúdos aumenta o desejo por alimentos ultraprocessados e diminui a motivação para escolhas saudáveis.
Otávio Freire, fundador da Ilumeo, alerta que as redes sociais criam uma falsa proximidade com influenciadores, distorcendo a realidade e incentivando comportamentos de risco. Essa influência pode ser particularmente prejudicial para jovens, que são mais suscetíveis a pressões sociais e padrões de beleza irreais.
Qual é o papel da análise do consumo digital na saúde?
Diante desse cenário, especialistas defendem a inclusão da análise do consumo digital no acompanhamento de pacientes com Obesidade. Maria Augusta Bernardini, diretora médica da Merck, afirma que é essencial entender como as redes sociais afetam as escolhas dos pacientes para oferecer orientações realistas e eficazes.
Embora medicamentos como Contrave possam auxiliar no controle da fome emocional e fisiológica, o tratamento da Obesidade deve ser multidisciplinar. Combater a desinformação e priorizar a saúde integral, em vez de focar apenas na estética, é crucial para evitar que sentimentos de culpa e vergonha continuem a definir a jornada de quem vive com Obesidade.