A catástrofe no Rio Grande do Sul e os constantes alagamentos em cidades brasileiras levam o País a pensar em soluções definitivas para os desafios causados pelas mudanças climáticas. O inovador conceito das cidades-esponja, criado em 2012 pelo arquiteto chinês Kongjian Yu, surge como uma alternativa sustentável e promissora.

Inspirado na ideia de absorver a água excedente, o sistema busca minimizar o impacto das chuvas fortes com uma série de medidas, entre elas:
a criação de áreas verdes permeáveis,
a implantação de sistemas de drenagem,
e a reutilização da água da chuva.

Assim, as regiões que sofrem riscos de alagamento podem reduzir o escoamento superficial, prevenir inundações e reabastecer os lençóis freáticos.

“Em 2014, com o apoio do governo chinês, foram criados metas e prazos para reduzir o efeito dos extremos climáticos sobre as áreas urbanas”, afirmou a arquiteta e urbanista Helena Degreas à ISTOÉ. “Estabeleceu-se que, até 2020, 20% das áreas urbanas seriam permeáveis e que 70% da água da chuva deveria ser reciclada. Até 2030, a meta sobe para 80%”.

O projeto de cidades-esponja da China já funciona em Wuhan, Chongqing e Xiamen.

Chongqing é um caso bem-sucedido: em 2020, mais de 24% da área urbana da cidade já havia sido transformada. “Até 2025, eles esperam que mais de 45% da cidade atenda às metas previstas. As soluções buscam transformar áreas urbanas em espaços capazes de absorver e gerenciar águas pluviais durante chuvas intensas, liberando-as gradualmente em períodos de seca”, disse Helena.

Outras cidades no mundo vêm adotando conceitos similares para melhorar a gestão das águas pluviais. Entre elas estão:
Bogotá,
Buenos Aires,
Berlim,
Roterdã,
Nova York,
Seattle,
Melbourne,
e Singapura.

Uma cidade-esponja usa um conjunto de espaços como parques, praças, jardins, ruas, canteiros e leitos de rios para permitir a absorção, infiltração, armazenamento e reutilização da água. “A retenção é feita de diversas formas e depende das características do local e dos objetivos em cada rua ou bairro urbano ou rural”, explica Helena.

Outros exemplos são:
telhados verdes, com vegetação que retém água e reforça o isolamento térmico;
pavimentos permeáveis;
bacias de detenção;
cisternas;
áreas de preservação permanente;
vegetação ao longo de cursos d’água, previnindo a erosão entre outras.

Algumas vantagens do sistema são a redução do risco de inundações, a reutilização e melhoria da qualidade da água e a criação de espaços verdes, com áreas permeáveis que contribuem para a redução da temperatura. Entre os desafios estão a falta de planejamento urbano adequado e o alto custo de implementação de soluções de infraestrutura. Há ainda a falta de profissionais capacitados na área, além da resistência à mudança por parte de setores da construção civil.

As recentes inundações no Rio Grande do Sul evidenciam a necessidade de planos de adaptação às mudanças climáticas com um plano emergencial e planejamentos de curto e longo prazo. “No emergencial, prefeituras e estados devem avaliar danos e identificar áreas críticas, implementar barreiras temporárias e sistemas de bombeamento, mobilizar equipes de emergência, restabelecer serviços essenciais e fortalecer sistemas de alerta e monitoramento contínuo. A curto prazo, limpar ruas, desobstruir bueiros, restabelecer o funcionamento dos equipamentos públicos, avaliar danos em infraestrutura e planejar emergências com reservatórios temporários”, disse.

Para o longo prazo, é fundamental uma mudança na cultura de governança pública para um modelo participativo, integrado e sistêmico, incluindo planejamento urbano sustentável e gestão de águas pluviais. Adotar o conceito de cidades-esponja pode ser um passo importante para construir cidades mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas.

Entenda como cidades-esponja da China poderiam ter evitado drama dos gaúchos
(Divulgação)
Entenda como cidades-esponja da China poderiam ter evitado drama dos gaúchos
(Mu Yu)
Entenda como cidades-esponja da China poderiam ter evitado drama dos gaúchos
(Divulgação)

Desafios no Brasil

A urbanista Helena Degreas acredita que é possível implantar o conceito no Brasil. “Isso vai requerer intervenções urbanas e institucionais significativas. Trata-se de uma mudança de cultura no âmbito do planejamento urbano e, principalmente, na maneira de atuar em construção civil quando voltada às infraestruturas destinadas ao cuidado com as águas pluviais nas cidades”, afirmou Helena.

“Cidades como São Paulo podem adotar soluções como os telhados verdes e a recuperação de áreas degradadas, transformando-as em parques e jardins, com maior permeabilidade do solo”.