Em entrevista ao podcast ‘Papagaio Falante’, comandado por Sérgio Mallandro e Renato Rabelo, no YouTube, Leda Nagle, de 72 anos, fez uma declaração polêmica ao dizer que não vai conseguir se acostumar a usar a linguagem neutra em conversas e textos.

“Não vou falar todes. Vou falar todos, porque todos quer dizer todos nós. Nós todos. Mas eu não vou falar a linguagem neutra, porque não vou aprender agora isso. Mas é difícil, porque você não quer ofender as pessoas também. Acho frescura. Quem quiser falar, fala, mas eu não vou falar”, comentou a mãe do ator Duda Nagle.

Já sobre os termos racistas, como a expressão “denegrir”, Leda lamentou não poder usar porque as palavras estão proibidas na sociedade: “Tem um monte de coisa que eu não sei hoje em dia como se fala mais. Você não sabe mais como se referir, por exemplo. Tem o ‘denegrir’ que não pode falar. ‘Mulata’ também não pode, e isso me incomoda muito, porque às vezes fico meio atrapalhada”, completou a veterana.

Após a fala polêmica de Leda Nagle, a IstoÉ Gente lista abaixo algumas expressões consideradas racistas. Confira!

Da cor do pecado

A expressão dá a entender que a pele mais escura é mais tentadora, representa algo sedutor, mas é negativo. A frase torna a cor da pele da mulher negra algo exótico e extremamente sexual.

Doméstica

A expressão designava as escravizadas que trabalhavam dentro das casas das famílias brancas. Elas tinham a pele mais clara e traços semelhantes aos dos europeus, por isso tinham um “status superior” ao dos escravizados da lavoura. Por receberam uma educação diferenciada e aprenderem algumas lições de bons modos, eram tidas como escravas “domesticadas”.

Denegrir

Segundo o dicionário Michaelis, a palavra significa “tornar negro” ou “difamar”. O dicionário ainda explica que há duas formas corretas de escrever o termo: denigrir e denegrir. Ambas as palavras tem o latim “denigrare” como origem. A expressão é ofensiva porque considera algo negro como negativo.

Fazer nas coxas

A versão da origem mais popular é a de que o termo viria do possível hábito dos escravizados moldarem telhas em suas coxas. Como eles tinham corpos de diferentes formatos, as telhas acabavam não se encaixando corretamente e, por isso, estariam mal feitas.

Mulata 

O termo é usado para se referir a pessoas negras de pele clara. A palavra faz referência à “mula”, filhote do cruzamento de égua com jumento. Ou seja, compara uma pessoa negra a um animal. A expressão se tona ainda mais pejorativa quando usada como “mulata tipo exportação”, reforçando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria.

Mercado negro, lista negra, ovelha negra

Assim como em “denegrir”, o uso do adjetivo “negro” em palavras como “mercado negro”, “lista negra” e “ovelha negra” tem peso muito negativo, tornando-o pejorativo.

Não sou tuas negas

Ao usar a expressão, você diz que “não é qualquer um com quem pode se fazer tudo”. Então quer dizer que as mulheres negras podem ser submetidas a qualquer coisa? Hoje não, mas na época da escravidão, quando surgiu a expressão, sim. As escravizadas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e usadas para satisfazer os desejos sexuais deles — que “preservavam” suas mulheres brancas.

Ter um pé na cozinha 

A fala é bastante usada para se referir a uma pessoa que não é exatamente branca nem negra. No século 18, a casa de famílias brancas tinham escravizadas trabalhando como cozinheiras e assistentes. Como elas eram, muitas vezes, assediadas e estupradas por seus senhores, era comum que tivessem filhos de peles mais clara. Por isso o “pezinho na cozinha”.

Trabalho de preto

De acordo com a crença popular do século 19, escravizados eram preguiçosos e burros — ou seja, não desempenhavam bons serviços. Por isso, ao dizer que algo é um “trabalho de preto”, você está dando a entender que a atividade foi tão mal concluída que só poderia ter sido feita por uma pessoa negra.

*A reportagem consultou o dicionário Michaelis, a militante e escritora Stephanie Ribeiro e o artigo “Metáforas Negras”, de Vera Menezes.