Por decisão da Justiça, as duas alunas que cometeram atos racistas contra a filha da atriz Samara Felippo, de 46 anos, no ano passado, na instituição de ensino de alto padrão Vera Cruz, na zona oeste de São Paulo, terão de prestar serviços comunitários por quatro meses, com carga de seis horas semanais. As defesas recorreram.
O caso ocorreu em abril de 2024, envolvendo a filha mais velha da atriz, que é negra e tinha 14 anos na época, sendo estudante do 9º ano. Segundo Samara, duas alunas da mesma série roubaram o caderno de sua filha, arrancaram todas as páginas de um trabalho de pesquisa e escreveram a frase “cu preto”. O caderno foi, em seguida, devolvido ao setor de Achados e Perdidos. Em comunicado interno, o colégio Vera Cruz reconheceu a agressão e suspendeu as alunas responsáveis.
A decisão judicial é datada de 16 de dezembro do ano passado e foi proferida pela 2ª Vara Especial da Infância e da Juventude. Antes disso, a audiência havia ocorrido em 25 de junho, data do aniversário de 15 anos da primogênita de Samara. A partir da sentença, as famílias das estudantes recorreram, e o processo aguarda julgamento de apelação no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), em segredo de Justiça.
Samara Felippo comentou o caso da filha em um vídeo nas redes sociais, na quarta-feira, 16, afirmando que “para o total de zero surpresas, nada aconteceu”. “Eu ainda estou nessa luta, e não só pela minha filha, mas pelos inúmeros casos de racismo que continuam acontecendo recorrentemente com adolescentes e crianças nas escolas”, disse a atriz.
A advogada que representa a atriz, Thais Cremasco, afirmou em nota ao Metrópoles que a sentença “reconheceu a gravidade dos fatos e aplicou a medida socioeducativa cabível às adolescentes envolvidas, nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente”.
“Este caso é emblemático porque reafirma que práticas de racismo não serão toleradas, mesmo quando praticadas por adolescentes, e que o sistema de Justiça está atento à proteção da dignidade e da igualdade racial, valores fundamentais de nossa Constituição”, escreveu a advogada.
Segundo a defesa, a família da vítima espera que todo o caso represente não apenas uma resposta ao ocorrido, mas também um “passo importante na conscientização da sociedade sobre o impacto da violência racial, especialmente no ambiente escolar”.
Pronunciamento da escola
Em comunicado interno veiculado após o caso, em abril do ano passado, o colégio Vera Cruz confirmou a agressão racista e afirmou que manteve comunicação “muito intensamente com as famílias das alunas envolvidas”.
“Imediatamente, foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias”, diz a nota.
De acordo com o comunicado, as alunas agressoras foram proibidas de participar de uma viagem do colégio e foram suspensas. “A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo – fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas”, afirmou a escola à época.