O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo, 23, que já concorreu em muitas eleições, mas nunca viu a sociedade brasileira com tanta raiva. “Estamos há 50 anos disputando eleições neste País e nunca vimos uma aberração dessa, uma cretinice dessa, que esse cidadão, que é o meu adversário, estabeleceu no País. Ele conseguiu criar uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que espalha fake news o dia inteiro, sem se importar se o seu filho está vendo ou não. É um desrespeito com a população, gera comportamentos como o do ex-deputado Roberto Jefferson (PT) e de outras pessoas que seguem nosso adversário”, afirmou o petista durante coletiva de imprensa em São Paulo.

O candidato afirmou também que as ofensas contra a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), não podem ser aceitas por ninguém que respeita a democracia. “Criaram uma máquina de destruição de valores democráticos”, prosseguiu o petista, que postou a mesma fala no Twitter para comentar às declarações de Jefferson e a reação dele ao receber em sua casa agentes da Polícia Federal.

Em conversa com a imprensa neste domingo, no entanto, o petista disse que não tinha informações consolidadas sobre a ação de Jefferson diante dos agentes da PF – a filha dele, a ex-deputada federal Cristiane Brasil afirmou que o pai os recebeu com tiros.

“Eu fui informado, mas ainda está muito incipiente. Eu ouvi dizer que ele não só soltou tiros, como soltou uma granada. Ele jogou uma granada nos policiais. Eu não sei o que está acontecendo, porque as informações estão chegando truncadas, mas me parece que a decisão era que ele saísse da prisão domiciliar e voltasse para a prisão. Eu não sei. É uma questão da Justiça, é uma questão da polícia, vamos esperar para que a gente saiba de toda a verdade”, disse Lula.

Em vídeos compartilhados nas redes sociais, Cristiane afirmou que o pai estava enfrentando os policiais à bala, e classificou a Polícia Federal como “a gestapo do Xandão”, em referência ao presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, e a polícia da Alemanha nazista. O caso acontece um dia depois do ex-deputado atacar com xingamentos a ministra do STF, Cármen Lúcia.

Em uma das gravações é mostrado o que parece ser um circuito interno de segurança da casa de Roberto Jefferson. Uma voz, que se assemelha a do ex-deputado, começa a dizer que não vai se entregar. “Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente. Eu vou enfrentá-los”, disse.

Jefferson cumpre prisão domiciliar por participação no inquérito das fake news. Ele é investigado por atuação em milícia digital contra a democracia. Na decisão que o tirou do presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro, e o liberou para o regime domiciliar, Alexandre de Moraes proibiu o ex-deputado de manter qualquer comunicação exterior, vedando inclusive a participação em redes sociais. À época, o ministro destacou que o descumprimento injustificado das medidas resultaria no restabelecimento imediato da prisão preventiva.

Roberto Jefferson chegou a se apresentar neste ano como pré-candidato à Presidência, mas teve o registro da candidatura indeferido. Em seu lugar quem disputou foi Padre Kelmon (PTB), que estava neste sábado com Bolsonaro em evento de campanha.

Sobre as ofensas à ministra, Lula disse ser impossível a quem ama a democracia aceitar uma situação como essa. “Não é possível. Ninguém tem o direito de utilizar os palavrões que ele utilizou contra uma pessoa comum. Muito menos contra uma pessoa que exerce o cargo de ministra da Suprema Corte”, afirmou.