Floriano Marques, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante o julgamento da ação que deverá tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, proferiu uma voto que, certamente e com a máxima justiça, entrará para o MQVD (Manual do Quero Ver Desmentir), uma estrovenga fictícia que acabei de inventar.

Muita gente, por incapacidade cognitiva e intelectual, e mais gente ainda, por pura desonestidade e falta de caráter, repete o mantra mentiroso de que o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones de chocolate e muito dinheiro vivo, não cometeu crime algum; apenas expressou uma opinião.

Para quem não está familiarizado com o assunto, eu explico: o ex-verdugo do Planalto, Jair Bolsonaro, está sendo acusado de crime eleitoral, especificamente, de abuso de poder político – e eu incluiria abuso de poder econômico – ao realizar um mega encontro com embaixadores, no Palácio do Planalto, com finalidade eleitoreira, em julho de 2022.

O devoto da cloroquina, em pleno exercício do mandato, não apenas usou o Palácio como deu ampla publicidade de suas falas mentirosas através da comunicação oficial da Presidência. No referido encontro, custeado com dinheiro público, o “mito” acusou o sistema eleitoral brasileiro de ser falho e, pior, de ter sido fraudado anteriormente.

Bolsonaro prometeu apresentar provas de que as urnas eletrônicas eram inseguras, mas nunca o fez. Falou que o sistema de apuração do TSE fora invadido por hackers, o que nunca aconteceu. Insinuou que as eleições que iriam ocorrer seriam manipuladas, e que o processo seria ilegítimo caso fosse derrotado, e por aí vai.

Atenção: quem convocou a reunião não foi o Jair Bolsonaro, mas a Presidência da República. Quem mentiu deliberada e descaradamente não foi o maridão da “Micheque” (e os 90 mil reais do Queiroz, hein?), mas o Presidente da República. Os embaixadores presentes ouviram, não o pai dos bolsokids, mas o chefe do executivo do Brasil.

O abuso do poder político e econômico, que ensejou a ação por crime eleitoral, se configura pelo claro objetivo eleitoreiro do ato, já que Bolsonaro não tratou de assuntos diplomáticos, o que esperaria-se com representantes de outros países, mas de campanha eleitoral e eleições. E ainda que não tivesse propagado suas mentiras, continuaria sendo crime.

Agora que falei como papagaio, como de costume, voltemos ao voto do ministro: “alguém pode acreditar que a Terra é plana, mesmo contra todas as evidências científicas. Esse sujeito pode integrar um grupo de terraplanistas ou uma confraria da borda infinita e dedicar seus dias a imaginar como um avião dá a volta no plano para chegar ao outro extremo”.

E continuou o “capa-preta” do TSE: “porém, se é um professor da rede pública, não lhe é permitido ficar a lecionar inverdades científicas aos seus alunos, pois isso seria desviar as finalidades educacionais que correspondem a sua competência de servidor docente”. Entenderam, caros bolsominions, ou será preciso desenhar ainda mais detalhadamente?

Bolsonaro pode acreditar no que quiser e falar o que quiser, mas não como Presidente da República, dentro do Palácio do Planalto, diante de convidados de Estado, tudo regiamente financiado com dinheiro público, com caráter eleitoral, e ainda veicular suas mentiras em canais oficiais de comunicação. Quem disse? A lei, ué. Portanto, tchau, querido! Até 2030. Parabéns, Ministro Marques.