JEFFERSON BERNARDES/PALÁCIO PIRATINI

CRISE Yeda, o vice Feijó (de terno azul) e o ex-secretário Busatto (à esq.): todos contra todos

Na semana passada, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó (DEM), que está rompido com a governadora Yeda Crusius (PSDB), soltou mais uma bomba contra o Palácio do Piratini (sede do governo gaúcho). Ele revelou que o chefe da Casa Civil, Cezar Busatto, tentou convencê-lo a aceitar o esquema de corrupção no Detran e no Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul). Segundo Feijó, no dia 26 de março, ele gravou uma conversa que teve com Busatto. Nela, o secretário disse que o Banrisul atenderia a esquemas do PMDB e que o Detran local seria fonte dos esquemas do PP. O diálogo gravado foi parar nas mãos dos deputados do PT, que lidera a CPI do Detran na Assembléia Legislativa. Com base nessa gravação, o PSOL entrou com um pedido de impeachment contra Yeda Crusius. Acuada, ela demitiu todo o secretariado e nomeou outro, de "transição", para recompor sua base política e enfrentar a mais crise institucional de seu governo.

A própria governadora se viu envolvida em acusações de uso de dinheiro de campanha para comprar um imóvel. Em depoimento à CPI do Detran, o delegado Luiz Fernando Tubino, responsável pela investigação, disse que um dos acusados de integrar o esquema da autarquia, Lair Ferst, teria dado R$ 400 mil a ela depois do fim da campanha de 2006. O secretário de Planejamento do Estado, Ariosto Culau, foi visto tomando chope com Ferst. Pouco antes de tomar posse, Yeda deixou o pequeno apartamento em que morava com seu marido e comprou uma casa num bairro nobre de Porto Alegre. Segundo a governadora, a casa custou R$ 700 mil. Mas a própria prefeitura avaliou o imóvel em R$ 900 mil. Um dos motivos de piada entre os opositores de Yeda é o nome do antigo proprietário do imóvel: Eduardo Laranja. "Não vou ajudar a oposição", rebate Yeda Crusius. "Não fiz nada de errado. Eles que se virem para explicar como comprei a casa."

Em relação ao Banrisul, o vice-governador Paulo Feijó disse que em 2006 ocorreu um desvio de R$ 18 milhões. Um total de R$ 24 milhões teria saído dos cofres do banco para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas apenas R$ 6 milhões foram contabilizados. Essa denúncia resultou de uma investigação do Ministério Público. Feijó pretendia entregá-la pessoalmente a Yeda Crusius no ano passado, mas a governadora se recusou a recebê- lo. O vice-governador protocolou a denúncia como um cidadão comum.

O Rio Grande do Sul está em situação pré-falimentar. Na sua própria campanha, Yeda admitia isso. Entre o primeiro e o segundo turnos da eleição, para obter sustentação política, a então candidata aproximouse do PMDB, do exgovernador Germano Rigotto, e do PP. No acordo para a aproximação, ela comprometeu- se a aprovar um tarifaço, um aumento de impostos que Rigotto propunha. Foi o início dos desentendimentos. Feijó foi à Assembléia Legislativa fazer campanha contra a medida. Antes mesmo da posse, o DEM rompeu com Yeda. O partido não tem sequer um secretário no governo.

ITAMAR AGUIAR/PALÁCIO PIRATINI

"Não fiz nada de errado. Eles que se virem para explicar como comprei a casa"
Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul

O que Feijó afirma é que, no processo de aproximação com o PMDB e o PP, Yeda começou a fazer vista grossa a irregularidades que esses dois partidos cometeriam em órgãos que já eram seus nichos de poder, especialmente o Banrisul e o Detran. Esse seria o mote da conversa com Cezar Busatto, ex-chefe da Casa Civil, que pertence ao PPS. "Todos os governadores só chegaram aqui com fonte de financiamento – hoje é o Detran (…) e o Banrisul", disse Busatto, em determinado trecho.

No caso do Detran, nem mesmo Yeda nega os problemas. A partir da Operação Rodin, da PF, descobriramse irregularidades na contratação, pelo órgão, de fundações ligadas a universidades gaúchas para a realização de exames de motorista. Os depoimentos na assembléia revelam a existência de um grande esquema. "Mas esse não é o meu Detran", defende-se Yeda, argumentando que a situação ocorria antes que ela assumisse. "O problema é que as denúncias existem, e os partidos envolvidos ainda integram o governo. É preciso uma solução", reclama o presidente do DEM no Rio Grande do Sul, deputado Onyx Lorenzoni.

A crise gaúcha teve repercussões nacionais. Irritado, o PSDB exigiu providências ao DEM contra Feijó. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) protocolou na quinta-feira 12 um pedido de expulsão do vice-governador. "A questão não é a denúncia, mas a forma. Eu mesmo já fui vítima de grampo e abomino isso", diz Heráclito. No momento, os esforços, tanto do PSDB como do DEM, são para esfriar os ânimos. Talvez eles não contem, para isso, com a ajuda dos dois principais protagonistas da crise. "Não me arrependo de nada e, se necessário, faço tudo de novo", provoca Feijó. "O meu vice é meu adversário, é meu inimigo", devolve Yeda.