Sugestões as mais variadas não
faltam entre os cumprimentos que o artista Vik Muniz recebe em seus vernissages. Desde que passou a desenhar com calda de chocolate, açúcar, ketchup, linhas, confete, pregos, miniaturas de plástico e toda sorte de “coisas banais” – processo depois registrado em foto e ampliado em dimensões impactantes –, não faltam mentes criativas a indicar esse ou aquele material inusitado para ele levar ao ateliê. Muniz geralmente recebe as sugestões com polidez e sorriso amarelo. No ano passado, ele foi obrigado a considerar a dica de uma figura especial, o colecionador e empresário Lowell Kwiat, dono da Kwiat, a empresa de diamantes nova-iorquina que, junto com a Swarovski, craveja de brilhos as sandálias de nove entre dez estrelas na noite do Oscar – na edição passada, por exemplo, a cantora Alison Krauss usou um parzinho bordado com 500 pedras da marca, avaliado em US$ 2 milhões. “Ele me mostrou um punhado de diamantes e eu achei que pretendia trocá-lo por obras”, ironiza Muniz. Na verdade, o milionário propôs que ele fizesse uma série de retratos de estrelas de cinema exatamente com os cristais cintilantes. Os olhos de Muniz faiscaram com a idéia. Depois de Paris, Atenas e Los Angeles, agora a série de fotos pode ser conhecida na exposição Divas e monstros, que o artista brasileiro radicado em Nova York apresenta a partir do sábado 5 no Centro Cultural Banco do Brasil paulistano. Junto com elas vêm também as imagens de personagens de filmes de horror – Drácula, Frankenstein, a Múmia e o Fantasma da Ópera –, feitas com um quilo de caviar negro beluga e osetra. Um dia antes, o artista participa como curador da abertura, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, de uma mostra de 50 fotos de outro monstro sagrado, o fotógrafo Robert Mapplethorpe, na primeira exposição comercial do americano no País – os preços dos trabalhos variam entre US$ 8 mil e US$ 22 mil.

Elizabeth Taylor, Grace Kelly, Romy Schneider, Catherine Deneuve, Sophia Loren, Brigitte Bardot e Monica Vitti foram as estrelas retratadas por Muniz. Para criar o contorno de cada rosto, ele derramava sobre um fundo preto cerca de três mil pedras lapidadas. O contéudo, pesando por volta de 200 gramas, valia US$ 650 mil. Kwiat queria que o artista fizesse as imagens em seu escritório na Quinta Avenida. Mas Muniz bateu o pé e levou o saquinho valioso para o seu ateliê no Brooklyn. Garante que nenhuma pedrinha se perdeu no chão do galpão. Se caísse, é provável que Kwiat não desse falta. “Uma vez ele foi para a sua casa de trem e, ao trocar-se, percebeu que um diamante de oito quilates havia caído na barra italiana de sua calça”, conta Muniz. Além de avoado, Kwiat é generoso. Usou a primeira série de fotos em leilões beneficentes e, ao negociar a cessão de imagens com Liz Taylor, a presenteou com a sua imagem cintilante. “Eu sempre fico muito bonita em diamantes”, foi o agradecimento da atriz.

Numa venda recente, uma série de cinco imagens ultrapassou os US$ 150 mil. No Brasil, cinco colecionadores já garantiram as suas. “Foi uma febre”, comenta o artista. “Quanto mais diamantes eu usava, mais o trabalho era bem-sucedido comercialmente. Pelo fato de estar utilizando uma pedra verdadeira, as pessoas acreditam que estão comprando diamantes reais.” Outro efeito ilusório é provocado pela ampliação, já que na escala de 1,50 m x 1,20 m algumas pedras ganham estatura de muitos quilates. “Um dia desses veio aqui no ateliê um colecionador da Antuérpia que ao ver as obras começou a suar. Achou que eu tinha diamantes daquele tamanho.” Embora também seja um fetiche das classes abastadas, o caviar usado nas fotos dos monstros não causa o mesmo fascínio. “O diamante simboliza o eterno. Já o caviar estraga rápido, traz a metáfora da degradação presente nos monstros, que são sempre uma falha do sistema”, explica Muniz, tão provocador quanto Andy Warhol.