Yamandú Orsi tomou posse neste sábado como presidente do Uruguai, no retorno da esquerda ao poder, após cinco anos de governo da centro-direita.
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Orsi, 57, sucede Luis Lacalle Pou e vai comandar até 2030 o país, de 3,4 milhões de habitantes, um dos mais estáveis e prósperos da região e que comemora hoje quatro décadas de democracia ininterrupta.
“A boa saúde da democracia está intimamente ligada à conquista de certos padrões de bem-estar”, disse Orsi em seu primeiro discurso após jurar lealdade à Constituição, no Palácio Legislativo.
O novo presidente agradeceu aos seus antecessores e prometeu “não ignorar as regras de funcionamento da economia que o Uruguai mantém desde o retorno da democracia”, lutar contra o crime abordando as suas causas e “formular estratégias de desenvolvimento com um foco sustentável e humano”.
Orsi é o nono presidente do Uruguai desde 1985, quando chegou ao fim uma ditadura de 13 anos, que deixou cerca de 200 presos ou desaparecidos. “Há sequelas desse período até hoje, por isso é tão justo quanto imprescindível manter intacto o compromisso com a liberdade, verdade e justiça”, disse.
Após o seu discurso no Parlamento, Orsi seguirá para a Praça Independência, onde Lacalle Pou vai lhe entregar a faixa presidencial.
Aos 89 anos e sofrendo de um câncer irreversível, o ex-presidente José Mujica assistiu à posse do seu discípulo no recinto legislativo, ao lado dos também ex-presidentes Luis Alberto Lacalle Herrera (1990-1995) e Julio Sanguinetti (1985-1990). Delegados de mais de 60 países, entre eles o presidente brasileiro e o rei da Espanha, também assistiram ao ato.
Yamandú Orsi será terceiro presidente de esquerda em quase 200 anos
Orsi será o terceiro presidente de esquerda em quase dois séculos de um Uruguai independente, após o seu mentor, o ex-guerrilheiro Mujica (2010-2015), e o falecido oncologista Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020). Ao contrário deles, terá que lidar com um Parlamento dividido: seu partido, a Frente Ampla, controla apenas o Senado, enquanto políticos antissistema ocupam a Câmara dos Deputados.
No campo econômico, Orsi terá que aumentar o crescimento, estimado pelo FMI em 3% para este ano, e, ao mesmo tempo, atender às demandas sociais sem aumentar ainda mais o déficit fiscal, que fechou 2024 em -4,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
Outro desafio será combater a criminalidade, grande parte ligada ao tráfico de drogas. Segundo uma pesquisa da Equipos Consultores, a insegurança é o principal problema dos uruguaios (37%), seguida de longe pelo desemprego (17%).
No Uruguai, a taxa de homicídios é de 10,5 por 100.000 habitantes, e a população carcerária é de 445 presos por 100.000 habitantes, a mais alta da América do Sul e a décima mais alta do mundo.
Para este pequeno país agrícola, vizinho da Argentina e do Brasil, as relações internacionais são essenciais para o acesso ao mercado. Orsi terá de apelar ao equilíbrio, com o Mercosul questionado em nível regional e um mundo polarizado.