BRUXELAS E ROMA, 27 MAR (ANSA) – Assim como já havia ocorrido na emergência migratória no Mediterrâneo, a União Europeia voltou a se mostrar dividida durante uma crise que envolve todo o bloco.
E, assim como das outras vezes, as divergências opõem países do sul a nações do norte, que não conseguiram chegar a um acordo para adotar um instrumento comum de apoio à economia contra a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Em uma reunião do Conselho Europeu por videoconferência nesta quinta-feira (26), países como Itália, Espanha e Portugal defenderam a criação de títulos de dívida comum para a zona do euro – os chamados “coronabonds” ou “eurobonds” -, mas a ideia foi rechaçada por nações com políticas fiscais mais rigorosas, principalmente Alemanha, Áustria e Holanda.
Os Estados-membros setentrionais preferem a utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), um fundo da União Europeia criado para socorrer países em crise na eurozona.
Os repasses, no entanto, seriam feitos como linhas de crédito, ou seja, as nações socorridas, já altamente endividadas, teriam de arcar com novos empréstimos. “O governo alemão observa os efeitos da crise muito atentamente e se empenhará de modo construtivo, e o ESM é o instrumento criado para essas crises”, disse um porta-voz do governo da Alemanha, Ulrike Demmer, nesta sexta (27).
Já o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, deu prazo de 10 dias para a UE encontrar uma resposta comum, mas criticou mecanismos antigos. “Como podem pensar que instrumentos elaborados no passado para intervir em tensões financeiras em um único país sejam adequados a esse choque simétrico? Para alguém que queira mecanismos de proteção elaborados no passado, gostaria de dizer claramente: não nos atrapalhe, pode ficar com eles, porque a Itália não precisa”, disse Conte na reunião do Conselho Europeu, segundo fontes do governo.
Os países do sul defendem o “coronabond” porque, com esse mecanismo, os membros da eurozona partilhariam uma mesma dívida, algo que não acontece atualmente. Dessa forma, nações mais endividadas, como Itália, Grécia, Portugal e Irlanda, teriam acesso a financiamento mais barato em um momento de crise, que tende a pressionar para cima os juros de seus débitos.
A Holanda chegou a sugerir que países sem margem orçamentária para combater a pandemia fossem investigados, o que enfureceu o primeiro-ministro de Portugal, António Costa. “Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo esta: repugnante”, disse, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
Segundo Costa, essa “mesquinhez recorrente” é uma “ameaça ao futuro da UE”. O projeto de títulos de dívida comuns especificamente para combater a pandemia também conta com apoio de França, Espanha, Irlanda, Bélgica, Grécia, Luxemburgo e Eslovênia. (ANSA)