No começo, o PT era um partido da classe média intelectualizada e dos operários das indústrias dos grandes centros. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente pela primeira vez, o perfil era o mesmo. As políticas assistencialistas da era petista, como o Bolsa Família, provocaram uma mudança radical no quadro. As vitórias passaram a vir dos grotões nordestinos, onde vive a população de mais baixa renda e mais dependente desses projetos sociais. No primeiro turno das eleições deste ano, no entanto, começou a virada no curral eleitoral petista. Bolsonaro ganhou em 23 das 27 capitais brasileiras, entre as quais cinco capitais do Nordeste. Haddad só prevaleceu em três capitais nordestinas. Mesmo no Ceará, um Estado governado pelo PT, Bolsonaro ficou em segundo lugar, atrás de Ciro Gomes, ex-governador do Estado, mas bem à frente de Haddad. Também nas pesquisas feitas neste segundo turno, o candidato do PSL já subiu 7 pontos percentuais do que obteve no primeiro turno na região. A constatação é óbvia: o PT vem perdendo dia após dia seu feudo eleitoral.

Em 2014, a vantagem expressiva obtida por Dilma Rousseff no Nordeste foi fundamental para evitar que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) triunfasse na apertada disputa. Dilma conseguiu na região, no segundo turno, 20 milhões de votos, contra 7,9 milhões dados a Aécio. Desta vez, o PT, sob orientação de Lula na cadeia, tentou manter a hegemonia do partido na região, às custas de um plano maquiavélico de tirar o apoio do PSB a Ciro Gomes, com o objetivo claro de carrear votos para o PT no Nordeste. Embora Haddad tenha vencido na região, Bolsonaro obteve no primeiro turno a maior quantidade de votos nordestinos dada a um opositor do PT desde o pleito de 2002: 7,7 milhões de votos. O desempenho de Bolsonaro foi melhor nas capitais que no interior. Das nove capitais nordestinas, Bolsonaro venceu em cinco delas: Recife, Maceió, Natal, João Pessoa e Aracaju. Haddad figurou em primeiro somente em três capitais: Salvador, São Luís e Teresina. Ao todo, o capitão reformado do Exército conseguiu, no primeiro turno, sagrar-se vitorioso em 42 cidades do Nordeste.

Integrantes do PT e da bancada nordestina no Congresso admitem nos bastidores que a falta da figura do ex-presidente Lula tem prejudicado a campanha do Haddad na região. Depois da primeira fase de “transferência de votos”, ocorrida após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter negado o registro de candidatura de Lula, Haddad tem perdido terreno pela falta de propostas concretas para a região. Em contrapartida, Bolsonaro avança especialmente nos grandes centros nordestinos, como consequência da sua pauta voltada para a segurança pública. O Rio Grande do Norte é atualmente o estado mais violento do país, com uma taxa de 14,9 assassinatos para cada 100 mil habitantes, um aumento de 257% nos últimos dez anos. Sergipe e Maranhão também tiveram aumento em mais de 100% nas suas taxas de assassinatos no mesmo período. Cinco das dez cidades brasileiras mais violentas do País estão no Nordeste, todas na Bahia: Eunápolis, Simões Filho, Porto Seguro, Lauro de Freitas, Maracanaú e Camaçari.

É como se o petismo, mesmo no Nordeste, esteja ficando relegado às menores cidades e às pessoas mais humildes, admitem fontes ligadas ao próprio PT. Muitas delas dependentes de programas sociais do governo federal implantados durante o período Lula. Durante a fase inicial do segundo turno, o PT tentou até disseminar as informações de que Bolsonaro cortaria o programa “Bolsa Família”. O problema é que nem isso chegou, de fato, a ter resultado efetivo contra o eleitor de Bolsonaro na região. O candidato do PSL negou essa intenção. Foi além: disse que será mais rigoroso com as possibilidades de fraudes, e que, se for feito, beneficiará quem mais precisa do programa. Uma de suas promessas é a concessão do 13º para beneficiários do Bolsa Família.

Além disso, existe um outro componente que tem complicado a vida do PT nesta reta final de campanha no Nordeste: seis dos seus aliados já venceram as eleições no primeiro turno – Camilo Santana (PT) no Ceará; Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão; Paulo Câmara em Pernambuco; Rui Costa (PT) na Bahia; Wellington Dias (PT) no Piauí, e Renan Filho em Alagoas. Preocupados já com o início do próximo mandato, esses governadores têm rareado a produção de eventos em prol da candidatura de Haddad. Entre erros do PT e acertos do PSL, a região Nordeste, que era vermelha, vai mudando de cor.

Bolsonaro conquista o Nordeste

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No primeiro turno, Bolsonaro ganhou em 23 das 27 capitais, cinco das quais no Nordeste, até então território petista. Haddad só ganhou em três e vem perdendo terreno para o PSL na região.

> Bolsonaro ganhou de Haddad em Aracajú por 39,9% a 28,4%
> Venceu o petista em João Pessoa por 49,8% a 24,3%
> Bolsonaro derrotou Haddad no Recife por 43,1% a 30%
> O candidato do PSL venceu o petista em Natal por 44,4% a 23,5%
> E massacrou o petista em Maceió por 52,3% a 19,6%
> Em Fortaleza, Ciro Gomes ganhou com 41%, mas Bolsonaro foi o segundo com 34%, à frente de Haddad
> Bolsonaro venceu até mesmo Ciro em 12 dos 104 bairros de Fortaleza, como Aldeota e Meirelles, enquanto que Haddad não venceu em nenhum bairro da capital cearense
> Em pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Ibope na segunda-feira 15, Bolsonaro cresceu 7 pontos no Nordeste neste segundo turno, subindo de 26% de votos obtidos no primeiro turno na região para 33% agora. Nas demais regiões (Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste), a vitória de Bolsonaro é esmagadora, como os 62% a 28% no Sul


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