O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, disse nesta quarta-feira, 20, que seu país não enviará mais armas à Ucrânia e, em vez disso, irá se concentrar em sua própria defesa. Os comentários foram feitos apenas algumas horas depois que Varsóvia convocou o embaixador de Kiev em meio a uma disputa sobre exportações de grãos.

“Não estamos mais enviando armas para a Ucrânia, pois agora estamos armando a Polônia com armas mais modernas”, disse Morawiecki. “A Ucrânia está se defendendo do ataque brutal da Rússia, e eu entendo essa situação, mas iremos defender nosso país”, completou.

Os comentários do premiê foram feitos em resposta a questionamentos de repórteres sobre se Varsóvia continuaria a apoiar Kiev apesar da disputa em relação às exportações de alimentos.

Polônia convoca embaixador ucraniano

Também na quarta-feira, a Polônia comunicou a decisão de convocar o embaixador de Kiev por causa dos comentários do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Ao falar sobre as exportações de grãos, Zelenski acusou algumas nações de fingirem solidariedade com a Ucrânia. Varsóvia denunciou seus comentários como “injustificados em relação à Polônia, que tem apoiado a Ucrânia desde os primeiros dias da guerra”.

A Polônia tem desempenhado um papel fundamental no envio de armas para Ucrânia, fornecendo equipamentos militares, como os caças MiG-29s e tanques de combate Leopard, além de permitir que aliados estrangeiros armazenem e transportem armamentos através da fronteira polonesa para a Ucrânia.

Em março deste ano, a Polônia foi o primeiro membro da Otan a prometer caças para Kiev, começando com as entregas já no início de abril. A Polônia também recebeu cerca de um milhão de refugiados ucranianos.

As tensões entre os dois países se intensificaram nos últimos dias devido à proibição da Polônia às importações de cereais ucranianos para proteger os interesses de seus próprios agricultores.

A invasão russa da Ucrânia fechou as rotas marítimas do Mar Negro que eram utilizadas antes da guerra. A Rússia chegou a um acordo que permitia as exportações marítimas de grãos da Ucrânia. O acordo, porém, expirou em julho.

Isto fez com que a União Europeia (UE) se tornasse vital como rota de trânsito e destino de exportação para os cereais ucranianos.

Em maio, com o objetivo de proteger agricultores de países que reclamavam de uma queda nos preços locais por causa das importações, a UE concordou em restringir as importações para a Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia. As medidas permitiram que as safras continuassem transitando pelos cinco países, mas sem serem vendidas nesses mercados.

Na semana passada, contudo, a Comissão Europeia anunciou o fim da proibição de importação, alegando que “as distorções de mercado nos cinco Estados-membros que fazem fronteira com a Ucrânia desapareceram”. Polônia, Hungria e Eslováquia reagiram imediatamente dizendo que não iriam acatar a decisão. A Ucrânia afirmou, então, que pretendia apresentar uma reclamação à Organização Mundial do Comércio (OMC).

(AFP, LUSA)