Três pessoas em remissão do HIV explicam como uma arriscada operação de transplante salvou as suas vidas, “prova viva” da esperança na luta contra o vírus.
Estes pacientes falaram sobre o seu tratamento durante a Conferência Internacional sobre a aids em Munique, que termina na sexta-feira e reúne especialistas, pesquisadores e ativistas para discutir a evolução do HIV.
Apenas sete pessoas no mundo são consideradas efetivamente curadas após receberem um transplante de células-tronco, um procedimento doloroso e arriscado que só é adequado para pacientes com HIV e leucemia agressiva.
Adam Castillejo, de 44 anos, também conhecido como o “paciente de Londres”, é um deles. Demorou “anos” até que ele pudesse ter certeza de que o transplante surtiu o efeito desejado, disse à AFP. “Não há um momento preciso em que te dizem: ‘Você está curado’, isso leva tempo”, acrescentou.
Marc Franke, de 55 anos, o “paciente de Düsseldorf”, também foi submetido a uma bateria de exames para garantir que o tratamento estava funcionando.
“Os médicos fizeram muitos testes para terem 100% de certeza antes de interromperem o tratamento antirretroviral”, que reduz a quantidade de HIV no sangue.
Estes pacientes tinham câncer de sangue e se beneficiaram de um transplante de células-tronco que renovou profundamente os seus sistemas imunológicos, uma operação que apresenta um risco de morte de 10%.
Insistindo nesta “enorme” taxa de mortalidade e outras possíveis complicações, Marc Franke confessa que não pode “recomendá-lo a ninguém”. Ele ainda considera que, em retrospectiva, “teria preferido tomar um comprimido (antirretroviral) por dia” a passar pelo exaustivo processo do transplante.
No início deste mês, os médicos relataram um sétimo caso provável de cura do HIV: um alemão de 60 anos não tem mais vestígios do vírus no corpo. Apelidado de “novo paciente em Berlim”, ele recebeu um transplante de medula óssea para leucemia em 2015 e parou de tomar antirretrovirais no final de 2018.
Os pesquisadores dizem que ele agora parece estar curado do HIV e do câncer.
Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional da Aids, classificou estes casos como “muito emocionantes”, mas admitiu que essa terapia só é aplicável a um número muito pequeno de pessoas.
A terapia só curou eficazmente “sete entre 40 milhões de pessoas que vivem com HIV”, lembrou ela. “São casos muito raros, mas são uma fonte de esperança para a pesquisa”, afirmou.
Todos os sete pacientes, exceto um, receberam células-tronco de doadores com uma mutação rara de um gene chamado CCR5, conhecido por impedir a entrada do HIV nas células. Esses doadores herdaram duas cópias do gene mutado, uma de cada pai.
O novo paciente de Berlim é o primeiro a receber células-tronco de um doador que herdou apenas uma cópia, uma configuração muito mais comum que dá esperança de encontrar mais potenciais doadores.
Paul Edmonds, na casa dos sessenta anos, o terceiro paciente a falar sobre a sua experiência durante a conferência, reconheceu que o transplante de células-tronco “não é para todos porque acarreta muitos riscos”.
No entanto, a sua experiência e a dos outros pacientes proporcionam “esperança de uma possível cura”. “Somos a prova viva de que isso pode acontecer”, disse ele.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram registradas 1,3 milhão de novas infecções por HIV no ano passado, enquanto 39 milhões de pessoas vivem com o vírus.
Timothy Ray Brown, o primeiro “paciente de Berlim”, foi a primeira pessoa declarada curada do HIV em 2008. Ele morreu de câncer em 2020.
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