Atuando cada vez mais em parceria e possivelmente juntos no mesmo palanque em 2026, os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ) e Romeu Zema (MG) têm desafios de montas distintas, principalmente na economia. Mas, na política, têm em comum a tarefa de tocarem suas administrações sem enfiar o pé na lama do extremismo, algo difícil para quem se elegeu com o apoio de Jair Bolsonaro. Os bolsonaristas mais radicais cobram suas faturas, e pressionam para os três governadores jogarem a moderação às favas — o que pode atrapalhar os planos nacionais de dois deles.
Mas antes analisemos aquele que não tem pretensões tão altas. Cláudio Castro precisará seguir descascando o mais robusto dos abacaxis fluminenses, a segurança pública. Para se cacifar a uma vaga no Senado Federal, como é seu desejo, não bastará ter a máquina na mão: o governador precisa melhorar os indicadores de criminalidade. É isso principalmente que o eleitor vai analisar ao decidir se Castro merece seguir com um cargo majoritário.
Ainda no campo político, Castro terá que coadunar seus interesses com o de outros líderes do estado. Seu vice, Thiago Pampolha (União Brasil), e o chefe da Assembleia, Rodrigo Bacellar (PL), querem ser governador. Se os dois saírem candidatos, Castro ficará com o vice, com quem vive brigando, ou com o correligionário, uma das figuras de mais poder hoje no Rio. O dilema se agrava porque, para sair candidato ao Senado, Castro teria que entregar o governo ao vice.
Por fim, na economia, a decisão do STF de manter o Rio no regime de recuperação fiscal, aos 45 de 2024, evitou o caos, mas o estado precisa urgentemente aderir ao Programa de Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), recém-aprovado no Senado.
O Propag, a propósito, foi a melhor notícia que Romeu Zema recebeu em 2024. O governador estava no plenário do Senado quando, sob o comando de Rodrigo Pacheco (PSD), o texto foi aprovado. Após o texto ser sancionado por Lula, e Minas Gerais aderir, as contas do estado ao menos enxergarão uma luz no fim do túnel. Como o próprio disse, não haverá folga financeira, mas, pelo menos, o estado se mostrará viável. A entrada no Propag trará desafios políticos.
A entrega de ativos do estado à União, como propõe o Propag, pode levar à federalização de estatais mineiras, como Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e Companhia de Saneamento (Copasa). No mês passado, a gestão de Zema enviou dois projetos de lei para a Assembleia visando à privatização das duas empresas, mas eles ainda não foram votados — o governo dispõe de ampla maioria, mas de uma base infiel. O vice, Matheus Simões (Novo), defendeu recentemente que a privatização não inviabilizaria o processo de federalização, se feita por meio do processo conhecido como “corporation” (empresa sem controlador definido).
Na política, o próximo ano trará encruzilhadas. Além de não ceder à tentação do bolsonarismo, Zema terá que saber dosar a oposição ao governo federal com a necessidade de investimentos no estado, para que tenha força para se projetar no cenário nacional em 2026. Sua principal marca, num eventual projeto rumo ao Planalto, seria a de “gestor eficiente”, o que não combina nem com extremismos nem com oposição raivosa. No plano local, Zema quer fazer do vice, Matheus Simões, seu sucessor, o que, politicamente, ainda está distante.
Já Tarcísio de Freitas entrará em seu terceiro ano no Palácio dos Bandeirantes como candidato à reeleição — ao menos é o que ele tem dito —, mas não sabe se chegará ao fim do ano nessa condição. Hoje, ele é um dos nomes mais fortes para ser o candidato da direita em 2026, ocupando o lugar de um Bolsonaro preso. A missão da reeleição ganhou impulso considerável após o sucesso eleitoral de 2024, que terminaram com Tarcísio tendo sido o maior fiador da vitoriosa candidatura de Ricardo Nunes à Prefeitura da capital e com um domínio de sua base aliada no populoso interior paulista.
Ainda no contexto de sua emancipação em relação ao ex-chefe, 2025 também deve impor desafios políticos e, é provável, desgastes ao governador de São Paulo. A perspectiva de troca de guarda, com a prisão de Bolsonaro, conflagrou uma guerra na direita que tem tudo para estourar ainda mais em 2025, e Tarcísio é um dos nomes preferenciais a ser alvejado pelas franjas mais radicais do bolsonarismo. Mas hoje, politicamente, o principal risco para seu futuro está no âmbito doméstico, com a segurança pública em crise.
Se as cenas de despreparo e truculência da PM paulista desgastaram sua imagem e a do secretário Guilherme Derrite no fim de 2024, 2025 indica começar com uma crise mais aguda na Polícia Civil.
Após ter sido citado na delação premiada de Vinícius Gritzbach, empresário fuzilado a mando do PCC no Aeroporto de Guarulhos em novembro, o chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Lopes, foi afastado do cargo. Afinal, acusações de ligação com o narcotráfico e de corrupção são pimentas que o bolsonarismo e o próprio Tarcísio costumam jogar nos olhos dos outros.