Museus de Londres são extensões das salas de aula

Museus de Londres são extensões das salas de aula

"MuseuMuseus da cidade britânica estão repletos de professores com seus alunos. Há uma verdadeira cultura de integração das escolas com as ruas e com os espaços públicos de conhecimento.Andando pelas ruas de Londres vi alguns professores de várias escolas diferentes caminhando com turmas de estudantes. Neste momento, fiquei intrigado, pois nunca vi nada assim no Brasil.

A magia estava dentro dos museus: repletos de professores com suas turmas. Alunos com papel na mão procurando obras e peças para algum tipo de atividade; outros em círculos para ouvir explicações de seus professores.

Os museus de Londres, além de modernos e sediados dentro de prédios majestosos, são verdadeiros palcos e extensões dos próprios colégios, não apenas dos da cidade, como também de munícipios e de países vizinhos. Além disso, pelo menos os principais, são totalmente gratuitos.

Museus: extensões das salas de aula

Nos três dias em passei na cidade, eu vi cenas como a que descrevi. Sem exagero. Devo ter presenciado umas 15 ou 20 excursões. O que mais me emocionou foi o envolvimento dos estudantes com os museus, independentemente da idade: vi tanto crianças de 7 anos deslumbradas com um osso de dinossauro ou um foguete, como também adolescentes de 16 anos com brilhos nos olhos diante de grandes pinturas.

Havia em todos esses jovens um ponto em comum: brilho nos olhos e não era graças ao celular, mas sim para com a arte, a cultura e, sobretudo, com a aprendizagem. Não pude deixar de pensar que estamos completamente errados quando pensamos que não se interessam por aprender.

O que precisam é dos incentivos corretos. Conversei com um professor em Londres e ele acredita que essas visitas impactam não apenas a aprendizagem, mas também a relação dos alunos com o próprio colégio. Há um impacto direto naquele famigerado "ver sentido na escola e na conexão dos conteúdos com o mundo real".

E o Brasil?

Não estou comparando Londres com o Brasil. No entanto, confesso, não pude deixar de pensar no quanto eu desejo um dia ver nossos jovens com o mesmo brilho no olho pelo aprendizado.

Lembro que, entre 2017 e 2019, eu levava alunos de Ribeirão Preto para conhecer o campus da USP. Naquela época, o Museu do Café, principal museu histórico da cidade, já estava fechado por falta de manutenção –, e continua fechado até hoje. Para a maioria, era o primeiro passeio que tinham feito no ensino médio inteiro. Creio que isso impacta a forma como veem os próprios colégios.

Esse tipo de atividade é um desafio. Dependendo da cidade, sair da escola a pé ou até mesmo de transporte público pode ser perigoso. Daí vem outro problema: a logística da atividade extra. Quem fornecerá os ônibus? Conseguir via prefeitura pode ser trabalhoso e excessivamente burocrático. Quais professores irão ajudar a cuidar dos alunos? Quando eles forem, quem cuidará de suas turmas?

Enfim, disse tudo isso para explicar que no Brasil não é fácil para os colégios ou para os professores. É necessária uma política pública federal ou, pelo menos, estadual, voltada à integração entre as escolas e os museus locais e as universidades. Poxa, tanto laboratório, museus e galerias incríveis para serem visitados. Falta incentivo governamental para tornar essas atividades possíveis.

Não podemos desistir de nossos jovens. É muito fácil e cômodo dizer que simplesmente não querem nada com nada, mas acreditar nisso é simplesmente acreditar que não há futuro para o Brasil. Isso não é verdade.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.