Com 50 mil km de extensão, estrutura para transmissão de dados ligará Brasil, EUA, África do Sul, Índia e outras regiões, e passará ao largo de áreas consideradas críticas, como o Mar do Sul da China.A Meta, empresa controladora do Facebook e do Instagram, anunciou nesta terça-feira (18/02) o plano de instalar um cabo submarino que ligará cinco continentes para transportar dados, inclusive para o desenvolvimento de inteligência artificial.
O cabo terá mais de 50 mil km de extensão, conectando Estados Unidos, África do Sul, Índia, Brasil e "outras regiões", descreveu a empresa. Chamado "Waterworth", será o terceiro e maior projeto do tipo executado pela gigante da tecnologia, que será proprietária única do duto.
A comunicação digital global está ancorada em uma rede de aproximadamente 450 cabos submarinos, que juntos perfazem cerca de 1,2 milhão de quilômetros de tubulações, segundo um relatório de 2024 do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede nos EUA.
De acordo com o centro, estruturas desse tipo são responsáveis por 99% das comunicações digitais transoceânicas e por 10 trilhões de dólares em transações financeiras diárias.
Nos últimos anos, big techs ávidas por dados, como a Meta, entraram nesse terreno dos cabos submarinos, que antes era domínio de provedores de telecomunicações.
"Em algum momento, quando seu crescimento é tão grande e seu volume de demanda supera o de outras pessoas, você é incentivado a investir por conta própria, eliminando o intermediário", disse à AFP Alan Mauldin, diretor de pesquisa da empresa especializada em dados Telegeography. A Google é outra empresa que tem investido forte na área, com 16 projetos de cabos submarinos.
Cada duto é composto por um feixe de cabos de fibra óptica protegido por um revestimento blindado que pode ser enterrado vários metros abaixo do leito do mar para proteção. A Meta não detalhou o volume de recursos destinado ao projeto, mas disse que é da ordem de "vários bilhões" de dólares.
Motivos para investir em cabos próprios
As plataformas querem entrar no mapa dos cabos também pela possibilidade conexão direta de suas operações globais e, principalmente, o aumento da resiliência de suas redes, segundo Mauldin.
"Um novo cabo grande e de alta capacidade não adianta nada… você precisa ter três ou quatro, porque se um ou dois caírem, você ainda poderá rotear o tráfego", observou.
Todos os anos, ocorrem cerca de 200 incidentes de danos a cabos que, de outra forma, poderiam colocar em risco grandes áreas de atividade econômica.
Esses danos podem ser causados por causas naturais, como deslizamentos de terra submarinos e tsunamis, ou por causas humanas, como arrastar âncoras de navios ou equipamentos de pesca.
Os cabos também podem ser alvos de sabotagem e espionagem deliberadas.
Em janeiro, a Otan lançou patrulhas no mar Báltico após suspeitas de ataques a cabos de telecomunicações e energia. Autoridades europeias alertaram sobre o aumento das ameaças híbridas vindas da Rússia.
Cabos submarinos são vulneráveis a cortes e grampos, o que exige equipamentos sofisticados, que poucos países têm. A Rússia demonstrou tanto capacidades quanto a intenção de atingir infraestruturas de telecomunicações submarinas críticas para os países da Otan, afirma o CSIS.
A rota "Waterworth" da Meta evita pontos críticos geopolíticos como o Mar do Sul da China, alvo de disputas entre Pequim e seus vizinhos, e o Mar Vermelho, destacou Mauldin.
O proprietário do Facebook também disse que o projeto do cabo forneceria "a conectividade abundante e de alta velocidade" necessária para impulsionar inovação em inteligência artificial.
O "treinamento" de novos modelos de IA pode exigir o transporte rápido de grandes quantidades de dados para os locais de clusters de computação em todo o mundo, observa o especialista.
sf/av (AFP, ots)