Julian Assange, detido no Reino Unido há quase cinco anos, tornou-se um pesadelo para os Estados Unidos e ao mesmo tempo um símbolo da liberdade de informação para muitos.

O governo dos Estados Unidos o acusa de espionagem e considera Assange uma ameaça, após o vazamento de material confidencial na sua página WikiLeaks, razão pela qual o australiano enfrenta um último recurso nesta terça-feira (20) e quarta-feira (21) para evitar a sua extradição para os Estados Unidos.

Este cidadão australiano de 52 anos criou em 2006 um veículo de comunicação sem fins lucrativos chamado WikiLeaks, que publicou, segundo o próprio site, mais de 10 milhões de documentos confidenciais, fornecidos por fontes anônimas.

O WikiLeaks revelou imagens do ataque aéreo de 12 de julho de 2007 em Bagdá, no qual jornalistas iraquianos e vários civis morreram assassinados pela tripulação de um helicóptero americano.

Os Estados Unidos depararam-se subitamente com um veículo de comunicação que revelou os documentos secretos vazados do Pentágono sobre as suas operações no Iraque e no Afeganistão, assim como a correspondência secreta do governo e das suas embaixadas em todo o mundo.

– Acusações na Suécia –

Em 2010, quando o WikiLeaks atingiu o pico de popularidade com os vazamentos, a Suécia exigiu a prisão de Assange sob duas acusações, uma por estupro de uma mulher e outra por assédio sexual, durante uma visita a Estocolmo para participar em uma conferência. As acusações foram posteriormente retiradas.

Assange negou a veracidade das acusações, mas foi submetido à prisão domiciliar na sua casa rural inglesa, até que, em maio de 2012, o Supremo Tribunal de Londres concordou com sua extradição para a Suécia.

Pouco depois, em junho de 2012, diante do cerco a que estava sendo submetido e para evitar a extradição, Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu durante sete anos, durante o governo de Rafael Correa.

Com a chegada de Lenín Moreno ao poder no Equador, o país deixou de conceder asilo ao australiano e Assange foi detido em abril de 2019 pela polícia britânica e levado para a penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, no sudeste de Londres.

Sua esposa, Stella Moris, revelou em 2020 que teve dois filhos com Assange enquanto ele morava na embaixada do Equador em Londres e fazia parte da equipe jurídica que trabalhava para ele.

Os Estados Unidos querem processar Assange, sob a acusação espionagem pelos segredos militares divulgados, em particular os relativos às operações militares no Iraque e no Afeganistão.

Washington acusam o australiano de ter publicado quase 700.000 documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas americanas a partir de 2010.

Se a vida de Julian Assange foi movimentada nos últimos anos, também foi movimentada durante a sua infância e juventude, que não foram fáceis.

O fundador do WikiLeaks nasceu em Townsville, no nordeste da Austrália, sem conhecer o pai, John Shipton, até os 25 anos, porque a sua mãe se separou dele antes do nascimento de Julian.

– Infância difícil –

A mãe teve um novo relacionamento, com Brett Assange, de quem o fundador do WikiLeaks herdou o sobrenome, mas de quem a mulher se separou quando o menino tinha oito anos.

Na primeira parte da infância, Julian Assange levou uma vida “nômade”, já que sua mãe e seu padrasto fundaram uma companhia de teatro e viviam viajando.

Após a separação, sua mãe se casou e teve outro filho com um músico, Leif Meynell, membro de uma seita na qual Assange vivia.

Mas Meynell maltratou Assange e a sua mãe, e eles acabaram fugindo.

Atraído pela computação de forma autodidata, entre 2003 e 2006 estudou Física e Matemática, além de Filosofia, na Universidade de Melbourne, sem concluir nenhuma graduação.

Isso não o impediria de criar uma página na Internet, como o WikiLeaks, que se tornou uma dor de cabeça para a maior potência do mundo.

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