PADRINHO Ricardo Salles, o ex-ministro da porteira: ele indicou Eduardo Bim (Crédito:Divulgação)

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem por finalidade, como o seu próprio nome determina, zelar pela preservação e melhora ambiental do Brasil. É inacreditável (embora tudo seja inacreditável no governo de Jair Bolsonaro), mas o presidente do órgão, Eduardo Bim, decidiu por meio de um despacho anular multas ambientais que podem totalizar R$ 16,2 bilhões — Bim ganhou a indicação para o cargo do ex-ministro Ricardo Salles (aquele da porteira, lembram-se dele?). Os processos precisam ser anulados individualmente, um a um, e abrangem desmatamento, queimadas e transporte ilegal de madeira – ou seja, tudo o que é crime. Para a advogada Suely Araújo, que desenvolveu um excelente e cuidadoso trabalho quando presidiu o Ibama no governo de Michel Temer, “essa decisão é como um terremoto que desmonta todo o processo de fiscalização”. Ela é também especialista em políticas públicas do Observatório do Clima. Diz: “Tudo aquilo que os fiscais fizeram está sendo jogado no lixo. Estimulam-se assim novas infrações”. A anistia às multas compreende o período entre 2008 e 2019, e diversas delas envolvem devastação de áreas de proteção ambiental da Amazônia.

CULTURA
Ela preconizava o poder decisório da mulher em eleições

PRECURSORA Maria Firmina (em ilustração do século XIX): o seu livro Úrsula está entre os melhores de todos os tempos (Crédito:Divulgação)

Acertou a Flip ao escolher definitivamente na semana passada a escritora Maria Firmina dos Reis como a homenageada de 2022. No século XIX ela teve a coragem de falar sobre voto e preconizar o poder das mulheres em eleições – estamos às vésperas de votação e, nas urnas, hoje elas são fator decisório. Firmina nasceu em 1822, ano da Proclamação da Independência – agora se comemora o bicentenário da data. É a primeira mulher negra a receber homenagem da Flip, e é também a primeira romancista do Brasil: em 1859 publicou Úrsula. Até hoje as primeiras linhas da obra estão entre o que há de melhor na literatura: “Mesquinho e humilde livro é esse que vos apresento leitor”. Em alguns clássicos de Machado de Assis há um quê de Firmina.

O legado

Divulgação

“Homenageá-la é forma de valorização de todas as mulheres que tiveram importante papel no século XIX. O seu legado literário e de vida servirá de exemplo para o País” Professor José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares

IRÃ
Os véus começaram a virar cinzas

TURQUIA Mulheres tomam as ruas: solidariedade às iranianas pela morte de Mahsa Amini (Crédito:Ozan Kose)

Se o governo iraniano pretende manter a retrógrada lei que obriga as mulheres a se apresentarem em público com a cabeça coberta pelo hijab não podem acontecer episódios bárbaros como o que acaba de ocorrer – com força suficiente para abalar o poder do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã. Ao longo da semana passada, a obrigatoriedade dos véus, baseada em uma polêmica interpretação jurídica do Corão, começou a ser, literalmente, incinerada. É a forma que os iranianos, sobretudo as mulheres, encontraram para dar um basta à truculência das tropas da denominada “polícia moral”. Eis o caso: em uma delegacia de Teerã morreu a jovem Mahsa Amini, presa porque, segundo a tal polícia, estava usando o hijab de “forma inadequada” – o governo fala em infarto, a população não tem dúvidas de que Mahsa Amini foi torturada. Milhares de mulheres, queimando véus, começaram a tomar as ruas de 15 cidades. Os protestos se intensificaram e na quarta-feira 21, com a solidariedade masculina e a palavra de ordem “Morte a Khamenei”, as manifestações se espalhavam por diversos países, entre eles Turquia, Iraque e Afeganistão. Contavam-se aos milhões as referências a #MahsaAmini. Até a quinta-feira pelo menos 25 pessoas haviam morrido nos atos públicos, outras 900 estavam presas. A imagem de Mahsa Amini, 22 anos, corre o mundo. E os anacrônicos véus começaram a se tornar cinzas.

IRÃ Homens e mulheres unidos ocupam quase todo país: luta contra a truculência da denominada “polícia moral” (Crédito:AFP)