Paul Rusesabagina, que inspirou o herói do filme “Hotel Ruanda” e que estava detido por críticas ao governo ruandês, foi libertado tarde da noite desta sexta-feira (24) depois de mais de 900 dias preso em seu país.
Rusesabagina, cidadão belga e residente permanente nos Estados Unidos, está “na residência do embaixador catarense em Kigali. Ele chegou há meia hora. São notícias excelentes, realmente”, disse uma autoridade americana logo após a meia-noite, horário de Ruanda.
Provavelmente, ele permanecerá “por alguns dias” no local antes de viajar ao Catar, que ajudou a negociar a sua libertação, para, depois, seguir viagem aos Estados Unidos, informou outra fonte oficial.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, saudou a libertação de Rusesabagina e a classificou como um “final feliz”.
“A família de Paul está ansiosa para recebê-lo de volta aos Estados Unidos e compartilho sua alegria com as boas notícias de hoje”, disse o presidente em comunicado da Casa Branca.
Atribui-se a Rusesabagina – que foi gerente de um hotel na capital ruandesa, Kigali – ter ajudado 1.200 pessoas a escaparem do genocídio de Ruanda, em 1994. Durante o massacre, cerca de 800 mil pessoas morreram, a maioria delas tútsis, mas também hutus moderados. Sua história inspirou o filme “Hotel Ruanda”, indicado ao Oscar em 2005, o que lhe deu notoriedade.
Rusesabagina, hoje com 68 anos, foi preso depois de um processo que seus partidários criticaram como uma “farsa” e disseram que o julgamento estava repleto de irregularidades. Ele foi acusado de apoiar a Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo insurgente responsabilizado por ataques em Ruanda em 2018 e 2019.
Ele nega qualquer envolvimento nos ataques, mas é um dos fundadores do Movimento Ruandês pela Mudança Democrática (MRCD), um grupo de oposição do qual a FLN é considerada seu braço armado.
Em um comunicado cauteloso, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, refutou a violência política, sem apoiar as acusações de Ruanda contra Rusesabagina. “Os Estados Unidos acreditam em uma Ruanda pacífica e próspera”, afirmou Blinken. “Nós reafirmamos o princípio de buscar uma mudança política em Ruanda por meios pacíficos. Simplesmente não há espaço para a violência política”, acrescentou.
Uma autoridade americana disse que a libertação não muda as preocupações dos Estados Unidos com o papel de Ruanda no leste da República Democrática do Congo, onde Blinken apoiou acusações de que o governo ruandês apoiaria rebeldes.
A família de Rusesabagina alertou há tempos que sua saúde estava se deteriorando, e temia que ele pudesse morrer na prisão. “Ficamos felizes com a notícia de sua libertação. A família espera poder se reunir com ele em breve”, declararam em comunicado pessoas próximas a ele, antes da notícia de sua soltura.
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