Não foi à toa que Jair Bolsonaro fugiu para Orlando, na Flórida.
O estado norte-americano é conhecido por suas praias, por seus parques temáticos e por seus centros de compras na capital, Miami. É também famoso por outra razão, bem mais vergonhosa: há décadas é refúgio de criminosos foragidos e inimigos da democracia que buscam se esconder da justiça de seus países. Assim como a América do Sul foi o destino favorito dos nazistas após a derrota na Segunda Guerra, a Flórida abrigou a escória da segunda metade do século 20.
Em 1933, o general Gerardo Machado, deposto como ditador de Cuba, voou para a Flórida com sete malas de ouro e se exilou em Miami. Décadas depois, em 1959, foi a vez de outro ditador cubano: Fulgêncio Batista, expulso pela revolução de Fidel Castro, escapou da prisão e se escondeu em Jacksonville, no norte do estado, quase na divisa com a Geórgia.
Mais recentemente, em 1990, o ditador Prosper Avril fugiu do massacre no país que governava, o paupérrimo Haiti, e pegou carona em um jato da força aérea americana para curtir a vida mansa no exílio, com toda a fortuna que roubou da população, na sua nababesca mansão em Boca Ratón.
Três anos depois foi a vez do presidente boliviano Gonzalo Sanchez de Lozda: para não encarar os protestos em La Paz, fez o que muitos criminosos sulamericanos fazem: pegou um voo para Miami.
Carlos Andrés Pérez, duas vezes presidente da Venezuela, também mudou-se para Miami em um auto-exílio antes de sua morte, em 2010. Outro líder venezuelano, Marcos Peréz Jiménez, viveu em Miami entre 1958 e 1963, depois de ter sido deposto.
Depois de deixar a presidência do Panamá, em 2014, o presidente Ricardo Martinelli não chegou a fugir para Coral Gables, perto de Miami. Fica a dúvida sobre como, com seu salário de presidente de um país do Caribe, ele conseguiu comprar uma singela mansão no valor de oito milhões de dólares.
Isso tudo sem contar um norte-americano, que fugiu de Nova York para lá: o ex-presidente Donald Trump mantém uma espécie de capital da extrema-direita em seu resort em Mar-a-Lago, em Palm Beach.
Por coincidência, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, foi passar as férias em Orlando, pertinho do presidente. As algemas da Justiça esperam a volta de Torres – e, em breve, de seu ex-chefe.