Cracolândia: Número de usuários supera o da pré-pandemia

Rovena Rosa/Agência Brasil
Cracolândia Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Após o seu surgimento na região da Luz, centro de São Paulo, o local no qual se concentram os usuários de entorpecentes ganhou o nome de cracolândia na década de 1990. Desde então ele é monitorado pelo poder público. Por meio de drones usados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), com início em 2018, a Prefeitura de São Paulo notou que o número de pessoas neste ano já superou o da pré-pandemia. As informações são da Folha de S.Paulo.

Segundo os dados coletados pela prefeitura, em novembro de 2019 cerca de 772 pessoas ficavam concentradas na rua Helvétia e seus arredores. O registro no mesmo mês em 2020 mostrou um aumento de 64% de usuários.

No período entre janeiro e novembro de 2019, a média diária era de 526 pessoas na cracolândia. O mesmo período em 2021 registrou 599 usuários aglomerados no chamado “fluxo”.

“A cracolândia cresceu e ninguém faz nada. De vez em quando tem uma revolução, soltam bombas, mas no dia seguinte não acontece nada”, disse o taxista João Freitas.

Projetos

Desde o seu surgimento, a cracolândia é supervisionada pelo poder público. Contudo, cada vez que um novo prefeito assume, ele encerra o projeto do antecessor e começa um novo quase do zero.

Fernando Haddad (PT) criou o programa Braços Abertos, que dava emprego, pagava hotel e focava em melhorar a qualidade de vida dos usuários. O projeto foi interrompido durante a gestão de João Doria (PSDB), que priorizava a abstinência total.

Quando Bruno Covas (PSDB) assumiu, ele fez algumas mudanças no modelo implementado pelo antecessor. Adotou tanto a abstinência zero quanto a redução de danos. Para isso, ele retirou os serviços sociais da cracolândia e os realocou em regiões afastadas, com o intuito de dispersar os usuários de drogas.

Esse projeto continuou com a gestão de Ricardo Nunes (MDB), que afirmou que a estratégia é positiva, pois esses novos locais mesclam os serviços sociais, moradias temporárias, tratamento médico e encaminhamento para emprego.

No entanto, Maria Angélica Comis, coordenadora do Centro de Convivência É de Lei, afirmou que “esse tipo de política de tirar serviços (sociais) para diminuir a população aumenta as populações vulneráveis no entorno”.

Para o psiquiatra Flávio Falcone, que atua na cracolândia há 10 anos, o poder público deveria focar as suas ações no problema social e não apenas nas drogas.

“A partir de 2016 existe estrategicamente uma inversão dessa questão colocando o crack como o principal problema. Mesmo fazendo essa inversão a oferta de tratamento não atende a necessidade daquela população.”

Nathália Oliveira, cofundadora da Iniciativa Negra por Uma Nova Política Sobre Droga, segue na mesma linha que o psiquiatra. “A cracolândia é como se fosse uma catraca, muitas pessoas que estão ali passaram pelo sistema prisional. O que a cracolândia reúne são pessoas com muitas vulnerabilidades para além do uso de drogas e a maior parte dessas pessoas são negras.”