A três dias da posse, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a última leva de ministros do primeiro escalão do seu governo. Respeitando o que havia anunciado durante a campanha, a lista inclui mais mulheres, a acomodação dos partidos de centro e até de centro-direita que fizeram parte da suposta “frente ampla” montada ao longo da campanha, como já era previsto: Ana Moser (Esportes), Daniela do Waguinho (União Brasil- RJ, Turismo), Marina Silva (Rede-AC, Meio Ambiente), Simone Tebet (MDB-MS, Planejamento) e Sônia Guajajara (PSOL-SP, Povos Indígenas).

Serão 9 ministérios para o MDB, PSD e União Brasil, três para cada partido. A primeira constatação a ser feita, a partir da lista, é que a “política” voltou à realidade nacional. Depois de quatro anos de confusão administrativa e de um governo que destruiu mais do que construiu, a negociação para montar uma base parlamentar elaborada a partir de conceitos lógicos prevaleceu – e isso é uma boa notícia. Quem apoiou Lula ou, em última instância, o apoiará, estará representado no novo governo. Parece óbvio, mas, diante do governo de desconstrução institucional realizado por Jair Bolsonaro, não deixa de ser um alívio.

O número de ministérios aumentou, mas é bom deixar claro que, diante de um governo disfuncional como o de Jair Bolsonaro, essa quantidade não tem relevância. É a diferença entre existir governo, e não existir. Bolsonaro prometeu 15 ministérios e entregou 23; Lula está com 37 pastas. É muito? Certamente. Mas é uma demanda que atende à realidade, não ao ideal.

Há belíssimos destaques entre os novos nomes. Além de Simone Tebet no Planejamento, um grande acerto de Lula – uma vez que um ministério mais focado no social, como era almejado por Tebet, fugia de seu perfil –, a decisão de convidar Marina Silva para o Meio Ambiente parece ser a escolha mais acertada entre todos os nomes do Ministério. Em primeiro lugar, porque sinaliza que o tema será prioridade no novo governo, uma vez que a destruição da natureza e o esvaziamento dos órgãos de fiscalização marcaram o governo que se encerra agora. Mas também porque o nome de Marina Silva traz credibilidade internacional, característica importantíssima para a reconstrução do nome do Brasil em meio aos organismos internacionais – e garantia dos tão esperados investimentos externos.

A escolha de Marina Silva teve repercussão positiva entre as ONGs mundiais de defesa do meio ambiente. A World Wide Fund for Nature (WWF-Brasil) postou em suas redes sociais: “A WWF parabeniza o presidente eleito e sua equipe de transição pela escolha da nova Ministra do MMA, uma pessoa com um histórico de compromisso real com a agenda socioambiental e experiente sobre o tema. Como organização independente da sociedade civil brasileira, apoiaremos o MMA sempre que a agenda socioambiental for ambiciosa e alinhada ao que aponta a ciência, no enfrentamento dos desafios para recolocar o Brasil em uma rota de desmatamento e conversão zero e de uma economia de baixo carbono”.

Apesar da boa repercussão geral dos novos nomes anunciados, não é possível esquecer que a lista traz o velho nepotismo político tão comum no Brasil, representado por herdeiros da velha política brasileira, caso de Jader Barbalho Filho (MDB-PA), filho do ex-senador e governador do Pará, Jader Barbalho, no poderoso Ministério das Cidades, e Renan Filho, filho de Renan Calheiros (senador e deputado federal por Alagoas), na pasta dos Transportes.

É um ministério perfeito? Longe disso. Mas é um ministério possível para um governo de reconstrução. A boa notícia é que a discussão volta a ser sobre política, como tudo de bom e ruim que isso representa, mas que deixa de ser sobre ministros desequilibrados, incompetentes e negacionistas. Para o povo brasileiro, é um grande alívio.

OS NOVOS MINISTROS
• Alexandre Silveira (PSD-MG): Minas e Energia
• Ana Moser: Esportes
• André de Paula (PSD-PE): Pesca
• Carlos Fávaro (PSD-MT): Agricultura
• Carlos Lupi (PDT-RJ): Previdência
• Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ): Turismo
• General Gonçalves Dias: GSI
• Jader Barbalho Filho (MDB-PA): Cidades
• Juscelino Filho (União Brasil-MA): Comunicações
• Marina Silva (Rede-AC): Meio Ambiente
• Paulo Pimenta (PT-RS): Secretaria de Comunicação
• Paulo Teixeira (PT-SP): Desenvolvimento Agrário
• Renan Filho (MDB-AL): Transportes
• Simone Tebet (MDB-MS): Planejamento
• Sônia Guajajara (PSOL-SP): Povos Indígenas
• Waldez Góes (PDT-AP): Integração Nacional