Árabes israelenses dizem viver com ‘medo’ por campanha de ódio vinculada à guerra

Cidadãos árabes israelenses afirmam viver com “medo” diante de uma campanha de ódio e ataques ligados à guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza, de acordo com depoimentos recolhidos pela AFP.

Os árabes israelenses, descendentes dos palestinos que permaneceram em suas terras quando Israel foi fundado em 1948, representam um quinto da população israelense.

Alguns deles acusam a polícia de não protegê-los. A força policial afirma que está combatendo “a propagação de informações falsas que causam pânico” e promete “punir os instigadores”.

Os incidentes se multiplicaram desde o início da guerra, desencadeada após a sangrenta incursão dos combatentes do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.

Pelo menos 1.400 pessoas morreram do lado israelense naquele dia, a maioria civis, de acordo com as autoridades.

Do lado palestino, 10.569 pessoas, a maioria civis, incluindo mais de 4.000 crianças, morreram nos bombardeios israelenses lançados em resposta ao ataque, de acordo com o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas.

– “Em estado de choque” –

Uma estudante árabe da Universidade de Netanya (centro), que falou sob condição de anonimato, relatou um “ataque no sábado à noite” contra as residências de estudantes árabes. O ataque foi perpetrado por “judeus de extrema direita” que gritavam “morte aos árabes”, afirmou.

“A polícia veio nos perguntar se tínhamos atirado ovos em judeus religiosos. Nós negamos e dissemos a eles: as câmeras estão lá, podem verificar”, contou à AFP.

“Um grupo de pessoas tentou arrombar a porta e nos atacar. Nos insultaram e pediram nossa expulsão”, acrescentou.

Um grupo de policiais levou os estudantes árabes até o telhado do prédio “para nos proteger”, continuou a estudante. Outros bloqueavam a porta para evitar que entrassem.

“Ainda estou assustada e em estado de choque (…), não me sinto segura (…), temos medo de voltar à universidade”, disse.

A polícia se referiu a “uma antiga publicação que incita ao terrorismo, que foi difundida como atual” e que provocou reações.

Mas Jaafar Farah, diretor do centro “Mossawa”, que documenta violações dos direitos dos cidadãos árabes em Israel, acusou a polícia e a prefeitura de Netanya de “não terem dissuadido os agressores”.

Farah afirmou que membros do grupo antiárabe “A Família”, ligados ao ministro da Segurança Nacional, o ultradireitista Itamar Ben Gvir, organizaram no sábado uma manifestação contra os estudantes árabes da Universidade de Netanya.

– “A polícia não faz nada” –

Nadim Nashif, diretor da ONG “7amleh” de defesa dos direitos digitais, afirmou que seu site “detectou 590.000 mensagens violentas em hebraico no X, Telegram e Meta”.

O deputado Ahmad Tibi, por sua vez, testemunhou ameaças contra parlamentares. “Não há um único membro árabe do Parlamento que não tenha recebido mensagens de ameaça, como por exemplo: ‘você deve ser morto’ ou ‘em breve será morto'”.

“Por que a polícia não faz nada, apesar das repetidas denúncias?”, questionou.

O sindicato “Power to the Workers” também registrou ataques repetidos “contra trabalhadores árabes” e destacou que houve “um aumento da violência contra eles”.

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