Os advogados do governo dos Estados Unidos negaram a motivação política no pedido de extradição apresentado contra Julian Assange, que é acusado de espionagem, na audiência de julgamento do fundador do WikiLeaks que termina nesta quarta-feira (21) em Londres.

Assange, em seu último recurso no Reino Unido para evitar a extradição, é processado pela Justiça dos Estados Unidos por ter publicado, desde 2010, mais de 700.000 documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas de Washington, em particular no Iraque e Afeganistão.

O advogado de Assange, detido há quase cinco anos em uma prisão de alta segurança perto de Londres, afirmou na terça-feira que o processo dos Estados Unidos contra o seu cliente, que depois de passar mal na véspera também não compareceu ao segundo dia de audiências, é baseado em “motivações políticas”.

Clair Dobbin, advogada que representa Washington, rejeitou no Tribunal Superior de Justiça de Londres a argumentação da defesa e destacou que a acusação é “baseada no Estado de direito e nas evidências” contra Assange.

“Ele publicou de forma indiscriminada e consciente ao mundo os nomes de pessoas que atuaram como fontes de informação para os Estados Unidos”, disse, antes de acrescentar que este fato o diferencia de outros meios de comunicação.

“São estes fatos que o distinguem, não as suas opiniões políticas”, destacou Dobbin.

“Há evidências de que desde que iniciou a WikiLeaks, ele buscou recrutar pessoas com acesso a informações classificadas. Trabalhou com hackers”, disse a advogada.

– Decisão em data a ser determinada –

Dezenas de seguidores se reuniram nesta quarta-feira, como já haviam feito na terça, para apoiar Assange.

Dois magistrados decidirão em outra data, que pode demorar várias semanas, se o Reino Unido deve entregar o fundador do WikiLeaks aos Estados Unidos.

O australiano de 52 anos recorreu da decisão do governo britânico, que em 2022 concordou em entregá-lo aos Estados Unidos.

Se a extradição for aprovada, o australiano pode ser condenado a uma pena de até 175 anos de prisão nos Estados Unidos.

Os advogados dos Estados Unidos, Clair Dobbin e James Lewis, destacaram nesta quarta-feira que Assange “colocou vidas em perigo”.

“Ao publicar as informações no site WikiLeaks, ele criou um risco grave e iminente para as fontes humanas mencionadas, que poderiam ter sofrido graves danos físicos”, afirmaram.

Se Assange for bem sucedido no julgamento desta quarta-feira, ele provavelmente terá que enfrentar outra audiência no Reino Unido, em data ainda não determinada, para confirmar que não será extraditado.

Caso o tribunal londrino confirme a extradição nas próximas semanas, Assange ainda teria como último recurso o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH). Ele teria o prazo de duas semanas para apresentar seu apelo.

– Saúde frágil –

Antes do julgamento, a esposa de Assange fez um alerta sobre o estado de saúde frágil do australiano de 52 anos.

“A saúde dele está piorando, física e mentalmente. A vida dele corre perigo a cada dia que permanece na prisão e, se for extraditado, ele vai morrer”, afirmou Stella Assange na semana passada.

O fundador do WikiLeaks foi detido pela polícia britânica em 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio para evitar a extradição por acusações de agressão sexual na Suécia, que mais tarde foram retiradas.

Em janeiro de 2021, um tribunal britânico rejeitou, em um primeiro momento, o pedido de extradição para os Estados Unidos.

A apelação americana fez com que, em dezembro de 2021, a Justiça britânica anulasse a primeira decisão e abrisse caminho para a extradição.

A apelação de Assange foi infrutífera e, em abril de 2022, um tribunal britânico autorizou a extradição, aceita dois meses depois pelo governo britânico.

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