Em poucos casos, como no do Brasil, a bandeira nacional é tão perfeita imagem da realidade natural. Apesar de o verde e o amarelo ter sido herdado da bandeira imperial, onde representavam as duas casas nobres mais importantes na família imperial (Casa de Bragança e Casa de Habsburgo-Lorena), estas duas cores, que se tornaram sinónimo da nacionalidade, evoluiram, no seu significado popular, para uma verdadeira cosmovisão ecológica: o azul, simboliza o céu e os rios brasileiros; o amarelo, simboliza as riquezas do país; o verde, simboliza as matas (a rica floresta brasileira), como podemos encontrar em milhares de sites na internet, dos mais nacionalistas aos mais ecologistas.
E é nesse ponto, na confluência na simbólica de visões políticas tão díspares, que a reflexão sobre a ecologia ganha no Brasil atual um lugar gigantesco: a valorização dos recursos naturais é um elo que transversalmente pode unir os setores da sociedade que parecem improváveis de trilhar caminhos conjuntos, apesar das diferenças de abordagens, das mais economicistas centradas no agro-negócio, às mais conservacionistas e ecologistas.
Num momento em que o futuro governo parece apostar na retomada do lugar de direito do Brasil na cena internacional, almejando o seu papel de “player” significativo, vemos que a ecologia pode ter aqui uma função altamente significativa. Com a deslocação de Lula à COP27, no Egito, é a clara assunção da centralidade da questão ecológica numa relevância política global do Brasil.
No cruzamento da estratégia de afirmação externa do Brasil, com a transversalidade do sentimento de valorização da simbologia expressa na bandeira, a ecologia poderá ser o grande motor de desenvolvimento e crescimento económico e cultural do Brasil. E reforço a dimensão cultural, uma vez que a ecologia implica, não apenas um olhar para a natureza externa ao humano, mas também uma nova significação do humano como parte do todo: ecologia é equilíbrio social e justiça, também.
Tal como o Líbano tem hoje na sua bandeira os célebres Cedros que já são referidos nos textos sumérios com quase 5.000 anos, também no Brasil o verde é essa floresta riquíssima que une toda uma população, seja na capacidade económica que a natureza permite, seja na identidade que ela implica.
E, no Brasil, a floresta, seja a amazônica, ou não, é identidade. Nada une mais os nativos americanos e a restante população, que esse sentimento “verde”. No contexto atual, esse verde tem de ser catapultado para o centro de um instrumento de unidade nacional, de confluência de interesses, de visão para o Brasil.
Seja no campo da educação, seja no do turismo, há que fazer um grande trabalho de sensibilização que demonstre como a conservação e a valorização da natureza e de tudo o que está conexo é um alto valor que pode catapultar o Brasil, quer para uma posição de respeitabilidade no mundo, quer para novas industrias sustentáveis, empregadoras de mão de obra muito valiosa, e criadoras de riqueza.