13/12/2006 - 10:00
Assim o ex-presidente Getúlio Vargas referia-se ao Tribunal de Contas da União: “É o arquivo para onde nós mandamos os amigos.” Na semana passada, uma das nove cadeiras do TCU foi a voto no plenário da Câmara. Vale ouro. Dá direito a ocupação vitalícia, salário atual de R$ 23 mil, gabinete amplo, carro, motorista e poderes para criar ou aliviar dores de cabeças em prefeitos, governadores e até no presidente da República. Os petistas indicaram o amigo do peito Paulo Delgado (MG). Os pefelistas apostaram no parceiro Haroldo Cedraz (PFL-BA). Os tucanos se assanharam com o deputado Gonzaga Motta (CE). A primeira medição de forças na Câmara depois da eleição presidencial exprimiu um resultado límpido: o governo perdeu feio. Mesmo dividida, a oposição elegeu Cedraz com 172 votos e ainda obteve outros 50 para Motta. Delgado conseguiu insuficientes 148 indicações.
Uma alternativa para aplacar os ânimos foi apresentada ao governo pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Ele parte do princípio de que a oposição não deve ser esmagada porque, se não der certo, a fúria empregada se volta contra o agressor. Espartano, também acredita que vitórias políticas mal devem ser comemoradas. “Há sempre o risco de humilhar os perdedores”, acredita. Nestes quadrantes de conciliação, ele concluiu que a vitória de Cedraz se daria em qualquer circunstância. Passou a apoiá-lo, esperando em troca o voto dos oposicionistas em matérias do interesse do presidente Lula e, claro, votos para se reeleger em fevereiro. “Aldo sabe que a política é um jogo de compensações”, diz um de seus auxiliares. Em seguida à eleição para a cadeira de ouro do TCU, o líder do PFL, Rodrigo Maia, foi ao gabinete de Aldo. “Obrigado por cumprir a palavra empenhada”, registrou.
“Não é possível que nós vamos ficar sempre cometendo os mesmos erros”, preocupa-se o deputado Renato Casagrande (PSB-ES). O rei do baixo-clero Severino Cavalcanti foi eleito presidente da Câmara na brecha de uma disputa entre os governistas. Na ocasião, sem acordo, o PT lançou na disputa dois nomes, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). Agora, o PT insiste em lançar Chinaglia, mas Lula prefere Aldo. A persistir, essa divergência tende a fortalecer dois outros reis do baixo-clero: o deputado Inocêncio Oliveira (PE), em plena campanha, e o azarão Ciro Nogueira (PI). Qual deles o PT prefere?