22/06/2005 - 10:00
Durante mais de uma hora, num tom de desabafo, a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli falou, sem se esquivar, da tumultuada separação de Ronaldo, após menos de três meses de casamento, e até de seu novo affaire. Trata-se, enfim, da versão da protagonista sobre um assunto que mobilizou a mídia do País. Daniella enfrenta até hoje a perseguição voraz dos paparazzi que ela, candidamente, desculpa. “Sei que eles não dormem na porta do meu apartamento porque querem.” Entre revelações, fala o que sente – ou o que não sente por Ronaldo – e admite que sua personalidade é fortíssima, moldada numa inusitada conjunção de escorpiões do zodíaco. Mas Daniella sobreviveu sem um arranhão. A partir de 24 de julho, comanda Presepada, um novo programa na MTV – onde já apresenta o Beija sapo, espécie de cupido eletrônico. Em Presepada, a bela se disfarça de feia, com “dente podre, peruca, olheira e ruga”. Ela, que se achava desengonçada na juventude, confessa: “Por mais bonita, perfeita, famosa que uma pessoa seja, ela é um ser humano que vai ter cólica, mau humor, acordar com bafo.” A foto acima prova que ela tem razão.
Não é verdade. Disseram que eu quebrei a casa, quebrei o computador. Não quebrei nada. Ao contrário. Deixei minhas coisas lá. Como ia quebrar um lugar onde estão minhas coisas? Fiz uma malinha de mão, peguei o meu cachorro, deixei os outros cachorros que a gente tem e fui embora. Tenho total liberdade para buscar minhas coisas a qualquer hora. Por que iria quebrar a casa?
Não.
A partir do momento em que você se separa, é porque alguma coisa se desconectou. Tem a convivência. Você está acostumada a acordar com a pessoa do lado. Há a intimidade. Sofri uma perda. E dói tanto que eu estou protelando para ir a Madri buscar minhas roupas. Vou esperar a poeira abaixar. Você não larga apenas uma pessoa. Você larga um sonho de vida. Estou tentando me reerguer porque eu tenho direito de viver minha vida.
Foi uma paixão louca. A gente já se conhecia, se encontrou depois e começou a namorar. Teve a tatuagem (Ronaldo gravou no pulso esquerdo as iniciais R e D), o noivado, o casamento. Foi uma paixão louca que durou um ano e eu não me arrependo de nada. Ele fala que também não se arrepende.
É uma decisão dele. Ele decidiu fazer a tatuagem como uma surpresa. Eu respeito. Nos separamos de uma maneira amigável, correta.
Não. Ele tem o direito de refazer a vida dele. Obviamente é o que ele vai fazer. Ele é um homem solteiro e vai namorar. É normal.
Com o tempo aprendi a dosar o ciúme, mas já fui muito ciumenta. Por incrível que pareça, o Ronaldo foi o namorado de quem menos senti ciúme. Juro. E o próximo vai ser menos. Tenho certeza que vou envelhecer ao lado do meu vovozinho, sem ciúme nenhum.
Não teve dinheiro, não teve nada. Ninguém casa e faz um contrato de casamento em que ganha R$ 15 milhões depois de três meses. Isso não existe. Não tem por que existir um acerto comercial.
Não. Graças a Deus, os contratos que eu tinha antes estão mantidos.
A gente tem um contrato ainda. Tanto eu quanto o Ronaldo. É que eles queriam que fizéssemos a campanha do Dia dos Namorados. Só que estávamos nos separando. Então, avisamos antes. Voltei de Portugal, onde fui apresentar um festival de música. Quando comecei a namorá-lo, falaram que meu cachê triplicou. Acabou atrapalhando, porque as pessoas que estavam me contratando ficaram com medo. Mas tudo continuou na mesma. Eu renovei o contrato com a emissora em que estava, a MTV. Eu nunca ganhei dez vezes mais nem estou fora do mercado. O que passou foi na minha vida pessoal, não profissional. Continuei na MTV e meu ibope é um dos maiores da tevê. Eu trabalho porque preciso, para pagar minhas contas, para me sustentar, sustentar minha mãe.
Sustento. Minha mãe não trabalha. Antes de começar a namorar o Ronaldo, comprei um apartamento para mim. Fiz uma promessa de dar o melhor para minha mãe, que mora em Belo Horizonte. Minha família toda mora lá. Trabalhei durante cinco anos para comprar o meu apartamento e dar o melhor para ela. O Ronaldo nunca deu nada, nem para mim nem para minha família, porque a gente não precisa. Obviamente, a condição que ele tem é muito melhor que a nossa. Mas não temos dificuldade.
Teve uma história com João Gordo na MTV que foi um negócio curioso. A gente estava num programa ao vivo chamado VJs em ação. Antes de participar, eu disse que não queria o assunto Ronaldo. Porque o programa era um debate dos VJs. De repente, o João Gordo falou: “Cicarelli, por que você foi no Fantástico anunciar que ia casar e não veio aqui na MTV?” Ficou aquele mal-estar. Todo mundo que entra na MTV tem medo do João Gordo. O João é uma pessoa contra o sistema e eu sou o sistema. Mas ele me tratou tão bem que eu fiquei apaixonada. Depois a gente ficou sem se falar um tempo. Eu cheguei à conclusão de que o João não estava errado. O que eu fiz, anunciar o casamento no Fantástico, talvez tenha sido meu primeiro erro. Eu não queria sair mostrando minha casa. Só que eu estava abrindo uma portinha para o Fantástico. Depois, como é que eu ia tentar fechar? Como eu ia falar “agora eu não quero mais”?
A gente teve uma proposta para vender o casamento, que era uma grana absurda. Para o Ronaldo não era nada,
mas para mim…
Quem ofereceu não vou falar. (Comentou-se, na época, que era a revista espanhola Hola.) Eles ofereceram 500 mil euros (mais de R$ 1,5 milhão) para cobrir o casamento. Mas tem preço você ter uma pessoa dentro do seu casamento, anotando tudo? E eu tenho trauma da foto do brinde e do bolo, da foto do buquê. Trauma, trauma…
Era na época do tsunami e eu disse: “Vamos pegar, vamos doar uma parte para as vítimas do tsunami e com a outra parte a gente paga as despesas.” Mas eu comecei a achar melhor não. Preferia fazer uma festa pequena e ter liberdade. É um momento que você quer rir, quer falar bobagem. É muito íntimo.
Casamos na Europa porque o Ronaldo não poderia vir para o Brasil. Ele tinha que casar na Europa. Daí fomos procurar um lugar. O castelo de Chantilly custava 15 mil euros (pouco mais de R$ 45 mil). Mas juntou o casamento em Paris, no castelo de Chantilly, o vestido Valentino e foi se tornando um fenômeno. Foi uma festa em que as pessoas se divertiram. Não teve nenhum luxo nem extravagância, a não ser o fato de se realizar na Europa. Os convidados levaram para casa, se tanto, um doce bem-casado. Mas eu sei da realidade brasileira. Eu não moro na Europa e não ganho em euro e sei o preço das coisas. Aquilo então soava como ostentação.
Já foi tudo falado. Se existem pessoas ainda interessadas em tocar nesse assunto, eu deixo para elas comentarem.
A pressão que eu vinha sentindo um mês antes do casamento. Ninguém imagina o que senti. Só eu senti aquela pressão. Um mês antes do casamento, tomei a decisão: não quero mais casar. Não quero isso, mesmo com tudo marcado. Não consigo viver dessa maneira. As pessoas olhavam na minha cara e não tinham outro assunto a não ser casamento, casamento, casamento… Eu não agüentava. Sou escorpião, com ascendente escorpião, com lua em escorpião. Eu não sou
meio-termo, sou oito ou oitenta.
A gente estava casado e ele, antes de casar, falava para termos um filho. Eu, politicamente correta, família, queria esperar casar. Casei, fiquei grávida 15 dias depois do casamento. Ele ficou muito feliz. E eu fiquei muito feliz pela felicidade dele. Mas Deus não quis, não foi à toa. Foi uma coisa triste. Casei, aquela confusão, perdi o bebê e logo depois a gente se separou. Eu errei, ele errou, todo mundo errou. Mas descobri que eu sou forte. Não é qualquer um que conseguiria passar pelo que passei. Tomei pancada de todos os lados. Em nenhum momento eu olhei e pude falar: “Por ali está beleza.” (Daniella começa a chorar). Meu lema sempre foi o alto-astral. Foquei no meu trabalho, que eu amo, e arrumei uma maratona para correr. Vou fazer a maratona de Berlim em 25 de setembro.
Quando um casal resolve se casar, cria uma vida própria. Fica mais indisponível para seus amigos. Eu não afastei o Ronaldo de ninguém, como ele não me afastou de ninguém, a gente se afastou das pessoas, o que é natural.
Criou-se uma comoção. A Maitê Proença (namorada de Rodrigo) escreveu até uma crônica sobre mim. Acho a Maitê maravilhosa. Não sei por que aquela raiva que ela demonstrou na crônica. Ela tinha raiva sem me conhecer. Ela leu o que escreveram sobre mim e acreditou. A história do Rodrigo era uma história com o Ronaldo. Era um relacionamento dele que vinha de alguns anos. De uma hora para outra eles se desentenderam e eu não tinha nada com isso.
Eu não estou certa de fazer aquilo, mas a capa foi desnecessária.
Para que você vai beijar na praia, por que não beija em casa? Por que não se protegeu? Sou solteira, pago minhas contas, eu e o Flávio (Zveiter, advogado) somos jovens e independentes. Ninguém tem nada com isso. Eu não estou dizendo que sou a dona da razão. Não precisava beijar, mas eu sou uma pessoa visceral, tenho a coisa do sentimento, se eu dei aquele beijo é que eu estava com vontade. Agora já foi, posso beijar quem eu quiser.
A gente não se falou. O Ronaldo está vivendo a vida dele, como eu a minha. Eu fui um pouco mais burra do que ele. Se ele beijou alguém, está no direito dele. Só que ele está tendo mais cuidado.
Sobre o Flávio, não dá nem para negar. Ele é uma pessoa fora do meio, é um advogado. Eu fiquei preocupada. Imagine: o cara dá um beijo no sábado, na quarta-feira está na capa de uma revista. Ele está chateado.
Eu fico triste porque quiseram me colocar como uma vilã. Eu errei. Se
eu estava imatura, amadureci dez anos. Tenho 25 anos, mas com uma carga
muito grande. Não é que estou sofrendo agora. Já sofri muito. Meus pais se separaram quando eu tinha cinco anos, não foi uma coisa fácil, foi muito dolorida. Já sofri muito na minha vida, muito, muito, e continuo sofrendo até hoje. Mas o
tempo é senhor da razão.