03/11/2022 - 7:00
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Estudo realizado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), de Minas Gerais, e pelo Instituto Neurológico de Curitiba (INC), publicado no Brazilian Journal of Pain, aponta que casos de bruxismo associados a fatores psicológicos foram prevalentes nos primeiros meses da pandemia de Covid-19.
A pesquisa, conduzida pelo professor adjunto Marcelo Lourenço da Silva, analisou as respostas de 1.476 pessoas que foram coletadas por meio de um questionário online aplicado entre maio e agosto de 2020 – o auge da pandemia, época em que as vacinas ainda não estavam disponíveis.
Segundo o artigo, o início ou agravamento de sintomas, como o apertar e ranger os dentes, foi relatado por 76% dos entrevistados, que constataram maiores níveis de estresse e nervosismo nos primeiros meses de pandemia. Os entrevistados mencionaram ter sentido dor de cabeça, sons de clique na articulação da boca, dor no ouvido e fadiga mandibular.
“Logo após o início da pandemia percebemos um aumento no número casos de fraturas dentárias, dor orofacial e dores de cabeça nas clínicas de odontologia e fisioterapia. Assim, juntamos o que estávamos vendo na prática clínica, com questionários que avaliaram a qualidade de vida dos voluntários”, explicou Silva, que destacou que havia uma hipótese de que a ansiedade causada pelo afastamento social e pelo desconhecimento da doença causaria aumento dos casos de bruxismo.
“Emoções como medo e ansiedade estão geralmente relacionadas e considera-se que os estressores no período da pandemia levaram à angústia ou tensão, provocando hábitos bucais disfuncionais, além do ranger ou apertar os dentes. Esse número que encontramos (76%) foi acima do esperado, mas pode-se considerar que foi um retrato do que estava acontecendo nos consultórios naquele momento”, afirmou o professor.
Causas multifatoriais
Segundo a cirurgiã-dentista Lívia Bergamin, da equipe de Odontologia Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, as causas exatas do bruxismo ainda não foram completamente esclarecidas porque envolvem situações multifatoriais, como fatores fisiopatológicos, psicossociais, hereditários e genéticos. Por outro lado, é sabido que uma das principais razões relacionadas ao problema, seja ele durante o sono ou de vigília (quando o paciente está acordado), são os fatores emocionais e psicológicos como estresse, nervosismo e ansiedade.
“Durante a pandemia as pessoas viveram o isolamento social, aumentaram as horas de trabalho, diminuíram a frequência de exercícios físicos, tiveram alteração na qualidade do sono, entre outros problemas. Houve um aumento significativo nos índices de estresse, nos quadros de ansiedade, depressão e distúrbios de sono. Tudo isso corrobora para que haja uma forte correlação com o aumento dos casos de bruxismo”, afirmou a cirurgiã.
Segundo Lívia, os sintomas associados ao bruxismo devem ser tratados por profissional especializado para evitar o desenvolvimento da chamada disfunção temporomandibular (DTM), que pode resultar em dores na articulação e dificuldade para mastigar, dores de cabeça e cervicais, dores na musculatura craniofacial e limitações de abertura bucal.
“Os impactos na saúde bucal são inúmeros e incluem desgastes e fraturas dentárias; má oclusão e mobilidade dentária a longo prazo; retração gengival; lesões em mucosas orais como língua e bochechas; dores na musculatura facial, entre outros”, explicou.
Ainda de acordo com Lívia, existem diversos estudos relatando a prevalência de bruxismo em adultos, porém os dados dependem da amostra escolhida. Mesmo assim, diz a dentista, esse problema tende a diminuir com a idade.
Tratamento
Lívia ressaltou que os dentistas precisam estar cada vez mais atentos aos sinais e sintomas do bruxismo para que possam dar o devido tratamento, já que além dos impactos na saúde da boca, os pacientes com bruxismo podem ter dores de cabeça constantes, dores na região do ouvido, zumbido no ouvido, tontura, dores no pescoço, nuca, ombros e na coluna vertebral.
Existem diversas alternativas de tratamento para o bruxismo em adultos, sendo a principal a confecção de placas que têm o objetivo de evitar que ocorram complicações dentárias e que protejam os tecidos orais. “Existe também a opção de associar o uso de medicamentos relaxantes musculares e benzodiazepínicos que tem como objetivo auxiliar no processo de desprogramação e relaxamento muscular”, disse a dentista.
Dependendo do caso, a aplicação da toxina botulínica também pode ser um tratamento indicado para reduzir a atividade da musculatura envolvida no movimento do bruxismo. Outros tratamentos não invasivos também são alternativas complementares, como massagens locais, uso de bolsas térmicas quentes, acupuntura e irradiação com laser de baixa potência.
Fonte: Agência Einstein
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