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METAMORFOSE Inimigo do governo na CPI dos Bingos, que ajudou a derrubar o ministro Palocci, Garibaldi virou candidato de consenso

Se o problema do Legislativo é de imagem, o novo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), esforça-se para resolvê-lo. Há algumas semanas, ele vem passando por um banho de loja. Os paletós caídos foram trocados por cinco ternos bem cortados, de uma loja de grife, a R$ 1 mil cada um. As gravatas de bicheiro foram substituídas por gravatas de banqueiro. Ele colocou lentes nos olhos para reduzir a miopia. “Agora enxergo mais longe”, gaba-se Garibaldi. Aprendeu a usar a internet. Para tentar diminuir os pneus na larga cintura, faz duas sessões semanais de Pilates numa academia de ginástica e passou a caminhar três vezes por semana nas calçadas da Superquadra 309 Sul, em Brasília, onde mora. Ele admite que tudo isso foi uma estratégia para melhorar a imagem. “O marketing estava aconselhando”, diz Garibaldi. “E eu precisava comprar roupas.” Resta saber é se a mudança de embalagem não irá esconder alguém com problemas semelhantes aos que derrubaram seus três últimos antecessores. Por conta de denúncias, Jader Barbalho (PMDB-PA), Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Renan Calheiros (PMDB-AL) viram- se forçados a renunciar à presidência do Senado.

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JOGO DE CINTURA Garibaldi nunca foi o preferido de Lula

Garibaldi ficará no cargo por um curto período: um ano apenas, um mandato-tampão para completar o período de Renan, que renunciou há duas semanas. Talvez, pelo curto período, Garibadi não se veja obrigado a sair. Mas, a exemplo dos presidentes anteriores, já tomou posse tendo de explicar denúncias contra ele. É uma situação que impede o novo presidente do Senado de comemorar sua eleição na plenitude em que gostaria. “Me sinto deprimido”, confidenciou o senador à ISTOÉ na terça-feira 11, após ser recebido pelo presidente Lula, um dia antes da eleição na qual sairia vitorioso com 68 votos. “Estou deprimido com a situação a que chegou o Senado.”

A maldição da cadeira já desenterrou os fantasmas do passado de Garibaldi. Quase toda a entourage que há anos circula em torno do novo presidente do Senado está sendo convidada a sentar-se no banco dos réus no Rio Grande do Norte. O Ministério Público estadual sustenta que o senador teve parte dos gastos da campanha de 2002 coberta por um esquema de desvio de verbas e caixa 2. Pelo menos R$ 210 mil do Estado teriam sido retirados para financiar a Polis Propaganda, de João Santana, o mesmo publicitário da campanha de Lula. O senador defendese, afirmando que não foi denunciado até agora com seus pares, entre eles o ex-vice-governador Fernando Freire. Outra denúncia que vem à tona é uma investigação do Supremo Tribunal Federal sobre desvios no dinheiro do programa do leite durante a gestão de Garibaldi como governador, entre 1995 e 2002. Nas escutas telefônicas, os investigados narram encontros com Garibaldi. E Garibaldi diz que os procuradores que o investigam “estão precisando de uma lição”. Garibaldi conta com o arquivamento de todas as investigações contra ele no STF. O problema é o novo presidente do Senado convencer sua adversária política, a governadora Wilma de Faria, do PSB, que escarafuncha as contas do seu governo. Wilma foi esposa do ex-deputado Lavoisier Maia. Há décadas as oligarquias Maia e Alves travam uma disputa pelo controle do Estado.

Para evitar que as denúncias avancem sobre ele, Garibaldi escora-se nos padrinhos da sua escolha, a começar pelo próprio presidente Lula. Quatro vezes deputado estadual, prefeito de Natal, duas vezes governador, duas vezes senador, Garibaldi, 60 anos, representará uma mudança na correlação de forças do PMDB no Senado. Sua entrada enfraquece o trio José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, que até então mandava absolutamente no partido e nas relações com o governo. A derrocada de Renan permitiu que o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), colocasse no Senado a sua pedra para dividir o poder do antigo triunvirato. E ela consubstancia-se em Garibaldi, um nome que até alçar-se à condição de candidato único à sucessão de Renan fazia oposição moderada ao governo.

Foi Temer quem negociou diretamente com o presidente a ascensão de Garibaldi. O presidente do PMDB deu pessoalmente a Lula a garantia de que Garibaldi seria fiel e não criaria problemas. Lula temia por algumas atitudes do senador no passado: ele foi o relator da CPI dos Bingos, apelidada de CPI do Fim do Mundo, e ajudou a derrubar o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Na quarta- feira 12, o deputado Palocci negociava com Garibaldi a prorrogação da CPMF. Eleito com o apoio do governo, Garibaldi defende outra alternativa: “Precisamos de uma reforma tributária definitiva e profunda”, diz o senador. Quanto ao resgate da ética no Senado, ele acha que é questão de ultimato: “Ou vamos para o abismo ou nos salvamos.” O tempo dirá em que direção foi o passo dado com a chegada de Garibaldi ao poder.