ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

O ministro da Justiça, Tarso Genro, o presidente interino do Senado, Tião Viana, Domingo Alzugaray e o presidente José Alencar

"Esse prêmio estimula a continuação do trabalho sério que todos os homenageados realizam em favor do Brasil", disse o presidente em exercício, José Alencar, que entregou o troféu de Brasileiro do Ano ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

"É uma honra estar aqui para homenagear um grupo de brasileiros que se destacam no empenho para tornar o Brasil um país melhor", afirmou Domingo Alzugaray, editor e diretor responsável da Editora Três, ao abrir a cerimônia de premiação. De fato, há mais de duas gerações, o Brasil não vive um momento histórico tão favorável, aliando crescimento econômico, distribuição de renda, inflação baixa e democracia. E boa parte dos responsáveis por essa situação ocupava as dependências do Tom Brasil. "Esta é uma noite em que se homenageia aqueles que buscam um Brasil melhor, com menos desigualdades sociais e mais feliz", enfatizou Carlos Alzugaray, presidente executivo da Editora Três. "Acima de todas as nossas ambições pessoais, somos todos funcionários do Brasil", lembrou. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, homenageado com o prêmio de Brasileiro do Ano na Economia, ressaltou os números positivos de sua gestão e antecipou em praticamente uma semana a oficialização do anúncio de um crescimento mínimo de 5% em 2007. Número que o próprio ministro vinha preconizando desde o início do ano e que muitos colocavam sob suspeita. Pouco antes de subir ao palco, o ministro dizia a um grupo de empresários que não se pode fazer política com mágoa. Teoria que colocou em prática ao receber um fraternal abraço do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf. Nas últimas semanas, Mantega e Skaf trocaram farpas na disputa em torno da CPMF. O ministro da Justiça, Tarso Genro, foi eleito o Brasileiro do Ano na Política. Além dele e de Mantega, também participaram do evento os ministros Márcio Fortes, das Cidades, Fernando Haddad, da Educação, Reinhold Stephanes, da Agricultura e Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial.

Cerca de 1.500 pessoas compareceram à Festa dos Brasileiros do Ano 2007, no Tom Brasil, em SP

O clima de confraternização não ficou restrito aos políticos. Na ampla sala vip, os presidentes do Corinthians, Andrés Sanches, e do São Paulo, Juvenal Juvêncio, rivais nos gramados e nos bastidores do futebol, conversaram por mais de 40 minutos sem nenhuma animosidade. Entre eles estava Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, homenageado com o título de Brasileiro do Ano no Esporte. Principal responsável por assegurar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, Teixeira vem sendo assediado por governadores de diversos Estados que pretendem sediar jogos da Copa. Na festa da Editora Três, ele evitou comentar a disputa e com humor dizia a quem insistisse no assunto que o técnico da seleção canarinho, Dunga, também presente ao evento, era quem mais conhecia sobre os gramados do País.

Joaquim Barbosa, o ministro responsável por levar ao banco dos réus os 40 acusados pelo chamado Mensalão, foi um dos primeiros a chegar ao evento. Por mais de 40 minutos trocou a sala vip pelas conversas informais no salão de recepção onde cerca de 1,5 mil convidados formavam pequenos e descontraídos grupos de conversa. Entre um cumprimento e outro, foi abraçado por José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares – que acaba de formar a primeira turma de administração com estudantes predominantemente negros -, e o jurista Humberto Adami dos Santos Júnior, um dos teóricos do sistema de cotas nas universidades brasileiras. Santos preside o Instituto de Advocacia Racial. Falavam sobre a política de cotas e o ministro Barbosa, sorridente, interrompeu o bate-papo em tom de brincadeira: "Não posso participar dessa conversa", disse. É que ele será o relator do processo de cotas nas universidades e qualquer comentário poderia sugerir qual será o seu parecer. Saiu e ficou ao lado da ministra Matilde Ribeiro, enquanto Santos detalhava a proposta de cotas aos empresários Michael Klein, da Casas Bahia, e Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do Grupo Caoa, ambos homenageados como empreendedores do ano pela revista ISTOÉ DINHEIRO.

Sandra e Roberto Cortês, presidente da Volks Caminhões, Elcio Aníbal de Lucca, presidente da Serasa

Iara e Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa, ministros do STF

O setor de automóveis, que bateu recordes de crescimento no ano e lidera a subida do PIB, prestigiou o evento em peso. Além de Oliveira Andrade, estiveram presentes Roberto Cortês, da Volkswagen Caminhões, Afonso Celso de Barros Santos, presidente da Avis, Andreas Deges, presidente da Audi, e Marcos Oliveira, presidente da Ford.

Em seu discurso de agradecimento ao prêmio recebido, Barbosa demonstrou a seriedade com que encara suas funções: "Essa homenagem representa um fato novo na nossa convivência social, que é o maior apego, o maior apreço, o reconhecimento pela sociedade de um valor precioso, que é o valor da Justiça", afirmou. Ao aceitar a denúncia do Mensalão, Barbosa emitiu aos brasileiros que a teoria de que todos são iguais perante as leis é algo possível de ser praticado. Mostrou, também, que dar valor à Justiça é condição básica para o estado de direito democrático. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, Brasileiro do Ano no Meio Ambiente, destacou o empenho do Brasil em reduzir o ritmo das mudanças climáticas e dedicou o prêmio ao povo de seu Estado. "A Amazônia brasileira está a serviço da humanidade. Nós temos contribuído muito para a redução do ritmo das mudanças climáticas e o povo brasileiro, em especial aqueles que guardam a floresta, não pode ser esquecido. Esse prêmio é muito mais para o povo do Amazonas do que para mim", disse. Outro governador presente, Jaques Wagner, da Bahia, conterrâneo de Ivete Sangalo – a Personalidade do Ano da revista ISTOÉ GENTE -, aproveitou o encontro para articular novos investimentos em seu Estado. No início da festa, ele manteve duas conversas que disse serem "promissoras". A primeira, com o presidente da Claro, João Cox, o Empreendedor do Ano no setor de Telecomunicações, e a outra com o presidente do Banco Santander, Gabriel Jaramillo, homenageado como o Empreendedor do Ano.

Política, como bem disse o ministro Mantega, não se faz com mágoas e também não se exerce em meio período, como dizia o ex-governador Franco Montoro. Segundo ele, um político faz política o dia inteiro e a noite toda. É provável que a receita tenha sido escutada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Logo que chegou ao evento, ele passou mais de 20 minutos em uma animada conversa com o ex-governador paulista Orestes Quércia e com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Em pauta estavam os cenários sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2008. Quércia ensaia apoiar o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), caso este confirme a candidatura. Mas ainda não bateu o martelo. Chinaglia, que é pré-candidato, ainda tenta uma aproximação com o PMDB. "Em eventos como esse muitas vezes são tomadas decisões que podem mudar o rumo das coisas", disse Chinaglia.

Na sala vip, o ministro Tarso Genro mudou o rumo de sua agenda. Minutos depois de cumprimentar o ex-governador paulista Cláudio Lembo, ele recebeu um telefonema do Palácio do Planalto. Estavam lhe informando que a viagem de Lula à Bolívia, marcada inicialmente para a quinta-feira 13, havia sido adiada para o dia 17. A notícia não desaminou o ministro, que se prepara para firmar um convênio com o governo do presidente Evo Morales para que a Polícia Federal treine na Bolívia uma tropa de elite boliviana para o combate ao narcotráfico e ao contrabando. Quando desligou o telefone, Tarso comentou com o então presidente interino do Senado, Tião Viana, a questão da sucessão na presidência nacional do PT. Autor da tese da refundação do partido, ele lançou e sustentou a candidatura de José Eduardo Cardozo, que ficou em terceiro lugar. Havia um acordo prévio com o grupo da ministra Marta Suplicy para apoiar Jilmar Tatto no segundo turno. Mas, no evento da Editora Três, Tarso Genro antecipou que vai apoiar o atual presidente do partido, Ricardo Berzoini. Revelou também que já fez um acordo com o governador Jaques Wagner, outro patrocinador da candidatura de Cardozo.

A descontração vista na sala vip em alguns momentos também foi revelada no palco. Ivete Sangalo, no meio de seu discurso, disse: "Tinha mais uma coisa para falar, mas esqueci." Segundos depois, voltou ao microfone para sentenciar: "Esqueci de falar da Bahia. Quem nasce na Bahia já nasce com sorte." O publicitário Roberto Justus, eleito o Empreendedor do Ano nas Comunicações, não perdeu a oportunidade de brincar com um de seus mais perfeitos imitadores: o humorista Tom Cavalcante, homenageado pela revista ISTOÉ GENTE. "Devo parte desse prêmio a você, Tom, que me imita com competência e todo o Brasil acompanha", disse Justus. As atrizes Glória Pires, Glória Menezes e Grazielli Massafera, além do dramaturgo Gilberto Braga, também foram homenageados por ISTOÉ GENTE. A espontaneidade marcou seus discursos. Gilberto Braga se disse emocionado por estar ao lado de Glória Menezes, estrela, segundo ele, de seu primeiro programa na televisão. "Escrevo novelas há 35 anos e até hoje tento me aperfeiçoar", revelou o autor de Dama das Camélias, o programa que teve a participação de Glória Menezes. Sempre ao lado do marido, Tarcísio Meira, Glória também se emocionou ao receber a homenagem e disse ser gratificante alguém com mais de 70 anos estar desempenhando papéis relevantes nos palcos do País.

Bem-humorado, o presidente em exercício, José Alencar, encerrou a cerimônia de premiação com o tradicional espírito mineiro. "Eu trouxe um discurso escrito, mas preferi ficar no improviso. Vou seguir os conselhos de um repentista, um artista do norte de Minas, Luís de Paula: Discursos devem ser como os vestidos das mulheres – nem tão curtos que nos escandalizem, nem tão longos que nos entristeçam."

(AG. ISTOE): ROBERTO CASTRO, MURILLO CONSTANTINO, WELLINGTON CERQUEIRA, FABIANO CERCHIARI, SAMIR BATISTA, RUBENS CHAVES, CLEYBI TREVISAN E ROGÉRIO LACANA