Demorou muito, mas, dez anos e dois meses depois de chocar o País, o mistério em torno das mortes do empresário Paulo César Farias – o PC, ex-tesoureiro do presidente cassado Fernando Collor de Mello – e de sua namorada, Suzana Marcolino, chega ao fim. Por decisão do Superior Tribunal de Justiça, quatro ex-seguranças de PC irão a júri popular, acusados de duplo homicídio. A sentença do STJ enterra definitivamente a tese do crime passional – Suzana teria matado PC e se matado em seguida –, versão montada pela família Farias, adotada pela polícia alagoana e amparada em uma questionável perícia coordenada pelo legista Fortunato Badan Palhares.

Em junho de 1996, quando ocorreu o crime, reportagem de ISTOÉ já denunciava a farsa armada em torno do crime passional. PC era, até então, o maior conhecedor dos segredos dos subterrâneos da política nacional, que haviam levado ao impeachment do presidente Fernando Collor quatro anos antes. Dono de uma fortuna depositada em contas bancárias no Exterior, vivia cercado por um forte esquema de segurança e morreu assassinado no próprio quarto, em sua casa de praia em Guaxuma, litoral norte de Maceió. Adeílton Costa dos Santos, Reinaldo Correia Lima Filho, José Geraldo da Silva e Josemar Faustino dos Santos, os seguranças que serão julgados, estavam na casa na madrugada do crime. Alegaram que nada viram e nem sequer ouviram os tiros disparados no interior de uma casa de madeira em uma região quase deserta. “Eles tinham o dever de agir e não agiram. Ou se omitiram ou foram cúmplices”, diz o promotor Luís Vasconcelos, um dos principais responsáveis para que o caso não fosse encerrado sem a punição dos assassinos.

A decisão do STJ, porém, não afeta a todos os que a Justiça de Alagoas entendeu terem participação no crime. O irmão de PC, Augusto Farias, na época deputado federal, chegou a ser apontado como autor intelectual do duplo homicídio. Como parlamentar, porém, teve a prerrogativa de ter sua situação examinada pela Procuradoria Geral da República, e acabou se livrando do processo. “A Justiça tardou, mas se fez presente. Seria uma aberração encerrar esse caso como um crime passional, pois todas as provas técnicas mostram o contrário. PC foi vítima de uma trama, de uma queima de arquivo”, diz o legista George Sanguinetti, da Universidade de Alagoas, um dos primeiros a questionar publicamente a tese defendida pela família Farias e responsável por desconstruir o laudo coordenado por Palhares. O julgamento dos seguranças, todos da Polícia Militar de Alagoas, deverá ocorrer no início do próximo ano.