Desde que rompeu com a presidente Dilma Rousseff por meio de uma carta, o vice Michel Temer trava uma batalha nos bastidores com a ala governista do seu partido, o PMDB. Com a alteração do rito do impeachment pelo STF há duas semanas, o grupo liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje o maior inimigo de Temer, se viu fortalecido e passou a articular internamente a destituição do vice do comando da legenda. O senador consultou dirigentes estaduais sobre a possibilidade de apoiarem um outro nome à presidência do PMDB na convenção programada para março.

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CONTRA-ATAQUE
Depois de jantar em sua residência, Temer recebeu apoio do PMDB fluminense 

Nos últimos dias, o vice se mexeu. Apesar de atingido diretamente pela intromissão do STF nas decisões do Congresso, Temer deu sinais de que está vivo politicamente. No domingo 20, Temer ofereceu um jantar em sua residência aos principais líderes do partido no Rio, Estado onde se concentra a ala anti-impeachment da sigla. O movimento produziu resultado imediato. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, o governador, Luiz Fernando Pezão, e Sérgio Cabral, homem forte do PMDB fluminense, saíram do encontro afinados com Temer. Disseram que se o vice for candidato à própria sucessão no PMDB, partido comandado por ele desde 2005, o apoio está assegurado. “Houve um aceno em torno da unidade do PMDB”, afirmou Temer logo após o jantar.

A ala ligada a Renan contabiliza os votos dos diretórios do Pará, Ceará e Piauí, mas para derrotar Temer precisaria do apoio dos dirigentes do PMDB do Rio. Com a declaração de apoio, o vice ganha musculatura política na tentativa de neutralizar a operação capitaneada pelo presidente do Senado. Temer ainda trabalha para conseguir aparar as arestas com o clã Picciani. Nem Leonardo nem seu pai, o presidente da Assembleia Legislativa do RJ e presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, foram ao encontro na capital paulista. No dia seguinte, Moreira Franco, aliado de primeira hora de Temer, se encontrou com o deputado estadual para um almoço, mas teve de ouvir que, embora Jorge Picciani acreditasse na unidade partidária, hoje ele deve sua lealdade a Renan.

Como a tarefa de atrair a família Picciani parece beirar o impossível, principalmente depois que Leonardo Picciani foi contemplado com cargos e postos estratégicos no governo, o vice atua numa outra trincheira na tentativa de reduzir a influência do líder peemedebista. Na última semana, Temer começou a agir pessoalmente para influir na sucessão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que terá seu destino definido em fevereiro, quando o STF julgará um pedido da Procuradoria da República para destituí-lo do cargo e do mandato. De um lado está Leonardo Picciani, apoiado pelo Planalto. Para concorrer contra o candidato governista, o vice, segundo interlocutores ligados a ele, estudaria apoiar um deputado que carregue a pecha de independente. Os nomes mais lembrados são os dos deputados federais Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Osmar Serraglio (PMDB-PR), que está em seu quinto mandato consecutivo, e José Fogaça (PMDB-RS), ex-prefeito de Porto Alegre. A auxiliares, no entanto, Temer disse que não fará nenhum movimento mais brusco sem que antes a situação de Cunha esteja totalmente resolvida. Ninguém quer perder aliados em meio à guerra.