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MIGRAÇÃO Anatel já registrou mais de 527 mil pedidos de transferência

Seja porque o número do te lefone havia se tornado uma parte de sua identidade, seja porque a combinação tinha sido indicada na numerologia, o fato é que muitas pessoas se sentiam presas às operadoras de telefonia por causa de oito dígitos. Agora, consumidores de todo o Brasil podem mi grar de uma prestadora de serviço pa ra outra e manter seus tradicionais algarismos. É a chamada portabilidade numérica, que tirou das operadoras a propriedade do número da linha fixa ou de celular, liberando o usuário para contratar o serviço mais vantajoso. O processo, iniciado em setembro passado, foi concluído na segunda-feira 2, com a adição dos DDDs que faltavam: 11 (São Paulo), 53 (Rio Grande do Sul), 64 (Goiás) e 91 (Pará).

A medida, que atinge 155 milhões de assinantes de celulares e 42 milhões de linhas fixas, aumentou o poder de barganha do consumidor e acirrou a concorrência entre as operadoras. A Anatel já registrou mais de 527 mil pedidos de portabilidade numérica, e até a quarta-feira 4 as operadoras já tinham atendido 352 mil solicitações. O prazo para a efetivação da mudança é de cinco dias. Mudar de serviço de telefonia é simples, mas o cliente precisa tomar alguns cuidados. O mais importante é se certificar de que os dados cadastrais que constam na antiga operadora estão corretos. Isso porque, segundo a Anatel, a maior parte dos pedidos rejeitados se deve a divergências no cadastro dos usuários. A agência reguladora estabelece a cobrança de até R$ 4 para a transferência, mas o serviço vem sen do oferecido de graça pela maioria das operadoras. Após fazer o pedido, o cliente pode voltar atrás, desde que se manifeste em no máximo dois dias. Por enquanto, o percentual de desistentes gira em torno de 10%, devido à oferta de vantagens e descontos pela operadora que corria o risco de perder o cliente. "A operadora oferece vantagens e o usuário acaba desistindo", diz o coordenador do Grupo de Implementação Numérica no Brasil, Luiz Antônio Vale Moura. Celulares de graça e descontos constam do pacote para conquistar o cliente e não perdê-lo (leia quadro acima).

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O estudante Matheus Mardegan faz parte dos 90% que pediram a transferência e não mudaram de ideia. Nada, porém, é definitivo. "Se outra operadora me oferecer coisa melhor, eu mudo", avisa o estudante. São atitudes como essa que acirraram a já grande concorrência entre as prestadoras. "As empresas de telefonia irão viver um período de inferno e paraíso, pois, ao mesmo tempo que perderão facilmente seus clientes, ganharão os clientes insatisfeitos da concorrência", afirma Paulo Vasconcelos, vice-presidente da Assesso, empresa especializada em gerenciamento de dados.

"A margem de lucro das operadoras vai diminuir porque, além de menos gente comprando por conta da crise, as operadoras estão tendo que dar descontos para não perder o cliente", diz o economista Ronaldo Fiani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Claudinei Santos, diretor de projetos da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo, aposta numa melhora da qualidade do serviço oferecido pelas operadoras. "O consumidor ganhou mais poder, pois, além de mudar mais facilmente de uma operadora para outra, vai exigir uma melhor relação custo/benefício".

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Roberto Pfeiffer, diretor-executivo do Procon-SP concorda com Santos. "O aumento da concorrência leva a um aperfeiçoamento dos serviços", diz. Mas ele faz ressalvas. "O consumidor deve se informar sobre seu contrato com a operadora e eventuais multas de rescisão, porque a mudança pode não ser vantajosa", explica.

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Nas operadoras, por sua vez, o discurso versa principalmente sobre a chance de conquistar novos clientes. "A portabilidade é uma excelente oportunidade de negócios", diz Roberto Lima, presidente da Vivo. João Silveira, diretor de mercado da Oi, diz que a portabilidade tem tudo a ver com a operadora. "Queremos que o cliente fique na Oi porque ele é bem tratado e não porque é obrigado", diz ele. Diretor de marketing da Claro, Erick Fernandes concorda. "A portabilidade é a expressão plena do direito de escolha do consumidor", afirma. Roger Sole, responsável pela área de marketing consumer da TIM, segue na mesma linha: "Uma das apostas da empresa é incrementar a competição na telefonia fixa com o TIM fixo." É só o início do recrudescimento da guerra entre as empresas do setor.

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Colaborou Hugo Marques