Virou unanimidade: a valorização do real em relação ao dólar vai acabar prejudicando as exportações brasileiras. Na quinta-feira 24, foi a vez de o setor agrícola alertar ao governo sobre os prejuízos que a atual política cambial poderá causar ao agronegócio brasileiro, principal motor do bom desempenho da balança comercial do País nos últimos anos. Durante o seminário Agricultura Brasileira: Agronegócio e Exportações, promovido pela revista IstoÉDinheiro, o ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes se mostrou inconformado com a insistência da equipe econômica em manter a moeda americana em um patamar perigosamente baixo. “Já vimos esse filme. Parece que o Gustavo Franco está de volta”, disse o ex-ministro, referindo-se ao ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso. Ao longo do Plano Real, Franco foi criticado por manter a moeda nacional valorizada, prejudicando as exportações. Caiu junto com a desvalorização da moeda em 1999.

Os problemas gerados pela combinação de dólar baixo e juro alto são tão sérios que até economistas considerados ortodoxos de carteirinha, como Afonso Celso Pastore, também ex-presidente do BC, passaram a defender a taxação do capital estrangeiro de curto prazo para conter a valorização do real e reduzir a taxa básica de juros. Outro que não poupou críticas à atual política econômica foi o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigoto (PMDB). “Nosso custo de produção levou em conta um dólar de R$ 3,20. Agora, na hora da comercialização, estamos com R$ 2,60. Isso, aliado aos juros, é prejudicial ao exportador”, afirmou o governador gaúcho, que enfrenta também uma quebra nas safras de soja e de milho causada pela falta de chuvas. Rigoto defendeu um conjunto de medidas compensatórias por parte do governo federal no sentido de minimizar as perdas dos agricultores com a comercialização e a estiagem. Responsável por boa parte da produção agrícola nacional, o Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores secas principalmente nas regiões produtoras de soja e trigo. “Esse câmbio e a estiagem vão ter reflexos na próxima safra.”

Apesar das críticas ao governo e sua rigidez na política monetária, o seminário também apresentou propostas para o crescimento do agronegócio, como a desburocratização das linhas de crédito para a agricultura e o incremento do comércio entre China e Brasil. Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, destacou a aliança comercial entre os dois gigantes que, este ano, deve movimentar algo em torno de US$ 10 bilhões. “É menos de 1% do comércio da China com o mundo”, diz Tang. Isso significa que os produtos brasileiros têm muito espaço para crescer no mercado chinês. São esses negócios que, nas palavras de Domingo Alzugaray, presidente da Editora Três, fazem do mundo rural sinônimo de eficiência e prosperidade.