A Polícia Federal e a Receita Federal estão investigando as operações e o patrimônio de
um fantasma português que deve fazer em breve
uma aparição na CPI dos Correios. Muito bem relacionado politicamente e escondido sob o manto
de franqueados, Armando Ferreira da Cunha transformou agências da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em um negócio lucrativo. Ele é suspeito de adulterar a selagem postal para camuflar lucros.

Sem aparecer, controla pelo menos três grandes franquias dos Correios na capital paulista: na região do Itaim Bibi, no Bairro do Limão e dentro do Shopping Tamboré – uma das mais rentáveis do País, com receita anual de R$ 144 milhões. Armando é suspeito de comandar um esquema de adulteração de selagem postal.

Oficialmente, as franquias milionárias aparecem com outros donos, que têm sido convocados pela CPI. Um deles é o ex-apresentador de tevê, que já foi deputado, João Leite Neto, que seria o cabeça da Tamboré. Por baixo dos panos, Armando, 56 anos, é o dono dessas franquias, que mantém graças aos seus contatos no mundo político paulista. Entre seus negócios estão a Alpha Import Service’s Automóveis (concessionária de veículos importados), a Tucunaré Administração de Bens, a churrascaria Alpha Grill, a Alpha Document Mailer (empresa de entrega de documentos) e uma agência de publicidade, a Number One Eventos.

Enquanto a PF e a Receita investigam o patrimônio e os negócios de Armando, parlamentares da CPI dos Correios – criada a partir da crise gerada no governo Lula após o envolvimento do ex-chefe do Departamento de Contratação, Maurício Marinho, num suposto esquema de corrupção – correm para desvendar irregularidades na exploração das agências franqueadas da estatal. Entre os maiores problemas estão: ausência de licitação pública, fraudes em operações postais, favorecimentos pessoais e políticos e, claro, a existência de titulares “laranjas”. Em depoimento na CPI no final do ano passado, o diretor regional dos Correios em São Paulo, Marco Antônio Vieira da Silva, admitiu que não tem como detectar a existência de titulares “laranjas” que estejam operando em nome de outras pessoas. Outro investigado pela CPI é PRKM, proprietário de duas franquias também em São Paulo – JK Comercial e Anchieta. Em seu depoimento, em novembro do ano passado, ele admitiu que pagava propina para funcionários da estatal em troca de informações privilegiadas.

Embora tenha formalmente o monopólio da entrega de correspondências no País, a ECT sofreu uma “privatização branca” com o sistema de franquias, iniciado no governo Collor. Hoje são 1.466 agências franqueadas, entregues a particulares sem licitação. Somente em São Paulo, são 355 franquias. O negócio ficou ainda melhor há um ano, quando os Correios transferiram o atendimento de cinco grandes bancos – Unibanco, Santander, Real, Itaú e Bradesco – para a rede franqueada. De acordo com o Tribunal de Contas da União, essa mudança gerou um prejuízo de R$ 10 milhões para a estatal. Para sacramentar a mamata, o Congresso aprovou um projeto de lei que prolongou os contratos dos franqueados até novembro de 2007.