Entre os 319 presos na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, o número 3762713 representa Edson Cholbi do Nascimento. Ali, todos sabem que ele é filho de um rei – o Rei Pelé –, mas isso não lhe dá regalias. Como seus colegas de martírio, Edinho levanta-se de sua cama dura, a um canto da cela de seis metros quadrados, todos os dias às seis da manhã. Enfrenta a contagem feita pelos guardas, recebe pão com manteiga, café e, depois de fazer a faxina de sua cela, conta com apenas uma hora para tomar sol. E o máximo que pode almejar para o futuro é uma vaga como ajudante na lavanderia. Está lendo, para matar o tempo, O código Da Vinci. Ele leva essa vida desde a quinta-feira 2, quando foi preso, às sete horas da manhã, sob a acusação de lavagem de dinheiro. “Na cadeia, ele procura se concentrar como um goleiro diante de um pênalti”, disse a IstoÉ a pedagoga Jéssica Fernandes, mulher de Edinho e mãe de suas duas filhas. “Se não for assim, entra em depressão profunda.”

A volta de Edinho ao cárcere revirou a vida da família Arantes do Nascimento. Em compromissos de divulgação da Copa do Mundo, Pelé estava na Alemanha quando soube do novo encarceramento de seu primogênito. Entristecido, o Rei emagreceu três quilos nas duas últimas semanas. Ele tem oscilado, conforme contam seus amigos, entre lágrimas e longos silêncios. “Só quero que meu filho seja julgado pelo que está nos autos do processo, e não pela imagem que as pessoas estão fazendo dele”, diz Pelé. Rosimeri, a mãe, trocou Nova York, onde viveu quase três décadas, pela cidade de Santos desde que o drama começou. Ela fez questão de estar o mais próximo possível do filho. No sábado 11, Rose tinha planos de levar até Edinho, na companhia da nora e das duas netas, um prato de lasanha e o pão recheado com presunto e queijo, cuja receita é um segredo de mãe.

Edinho sabe o quanto é dura a vida no cárcere. Ele passara uma temporada de quatro meses, no ano passado, numa cela de segurança máxima em Presidente Bernardes, também no interior paulista. Ali, sem jornais, televisão ou qualquer
tipo de distração, “quase enlouqueceu”, na expressão de sua mulher. Ninguém esperava que ele tivesse de voltar para atrás das grades tão cedo. Mas a promotora Ana Maria Frigelli Mollinari considerou que, solto, Edinho representa um perigo
para a sociedade.

Enquanto aguarda o julgamento do recurso que poderá levá-lo de volta para casa, Edinho trava contato com o mundo externo pelos aparelhos de tevê e rádio que mantém em sua cela. O tratamento que ele havia iniciado numa clínica de desintoxicação, para se livrar do uso continuado de drogas, teve de ser interrompido. Suspeita-se que as relações de Edinho com o mundo do tráfico teriam começado quando ele morou no Bronx, em Nova York, bairro de latinos e negros muito explorado em filmes policiais. Ele só voltou a morar no Brasil depois de completar 18 anos. Nesta fase, com a ajuda do pai começou a jogar futebol, como goleiro, no time profissional do Santos. Sua carreira foi interrompida precocemente, dois anos depois de ele ter machucado o joelho numa das traves do estádio da Vila Belmiro. Corria o ano de 1999 e, sem poder voltar a jogar, Edinho tentou ser piloto de motocicleta. Não deu certo. Buscou, então, sempre com o auxílio financeiro do pai, ser empresário no setor de organização de corridas sobre duas rodas. Faliu. Depois disso, mergulhou num anonimato do qual emergiu acusado de ter se tornado sócio de Naldinho, seu amigo de infância e apontado pela polícia como o maior traficante de drogas da Baixada Santista. Ironia: Naldinho é filho de outro ex-jogador do Santos, Pitico.

ISTOÉ teve acesso ao processo 1267/05, que tramita em segredo de Justiça.
Nas cerca de 200 páginas, Edinho é acusado de lavagem de dinheiro e seu depoimento foi marcado para 24 de janeiro de 2007. “A maior prova de que Edinho é inocente é a nossa vida financeira, um caos completo”, conta a mulher, Jéssica, com voz embargada. O herdeiro de 7,143% do patrimônio de Pelé, estimado em
US$ 40 milhões, não consegue pagar suas contas. Dois cheques sem fundo constam no SPC, um de R$ 67,63 e o outro de R$ 31.160,60, e dois títulos foram protestados. Estima-se que a sua dívida seja de R$ 700 mil, 80% para uma só empresa. “Edinho errou porque é humano”, lamenta Jéssica. “Ele merece outra chance para acertar.”