A boca masculina mais cobiçada do mundo vai estar na praia de Copacabana. Essa boca tanto se contorce, que já foi apelidada até de rubber lips (lábios de borracha) – e dá para imaginar por aí os desejos que ela desperta. Na verdade, a boca é um bocão, bocão que uma fila de brasileiras gostaria de beijar, mas só Luciana Gimenez beijou.

Já dá para saber de quem se está falando. Trata-se da boca e de tudo que vem junto com ela num magérrimo e eletrizante corpo feito de rock, ritmo e sensualidade. Trata-se de Mick Jagger, o famoso vocalista da banda Rolling Stones que se apresenta no Rio de Janeiro no sábado 18 como parte da turnê A bigger bang. Há quatro décadas os Rolling Stones fazem as pedras rolar pelo mundo e, assim, essa será a última chance de vê-los no Brasil. A turnê tem sido um sucesso avassalador desde que começou a rodar há seis meses o planeta. “É o adeus prolongado”, destaca o jornal britânico The Sun. Muitos apostam que o quarteto dificilmente voltará aos palcos em tours internacionais dessa dimensão. Pesa a idade: Charlie Watts tem 64 anos, Mick Jagger e Keith Richards têm 62, e Ronnie Wood está com 58. Há também quem diga que a saúde do baterista Charlie Watts já está bem debilitada depois que ele se submeteu a um doloroso tratamento de câncer de garganta. Os fãs pressentem essa despedida e gastam dinheiro. Em Nova York, por exemplo, os ingressos chegavam a US$ 450. Os brasileiros deram sorte, aqui o show é de graça. E estima-se um público recorde de dois milhões de pessoas. Para não fugir ao mais famoso clichê, as pedras vão rolar também na faixa de areia diante do Copacabana Palace.

Os Rolling Stones se jogaram no mundo nos conturbados anos 60 e vivem hoje no conturbado início do século XXI. Assim, não é sem motivo que a segurança seja uma de suas grandes preocupações. Eles exigiram que toda a área do show seja milimetricamente rastreada por cães farejadores de explosivos. Jagger, Watts, Richards e Wood serão protegidos por 10 seguranças australianos e 20 brasileiros. Não há exigências estapafúrdias. Além do esquema de proteção, os Stones só pediram leite de soja, mesa de sinuca e muita bala de menta. Há um pedido especial de Jagger: uma running area, pista dentro do hotel para ele se exercitar. E não querem limusines, preferem, em suas próprias palavras, “um carro normal”. Terão quatro Mercedes à sua disposição. Nenhum passeio está programado, mas eles serão convidados pelo grupo Afroreggae para visitar o Complexo do Alemão, um dos mais impressionantes e violentos conglomerados de favelas do Rio de Janeiro. O principal responsável pela vinda dos Stones ao Brasil, o produtor da Planmusic, Luiz Oscar Niemeyer, diz: “Eu tenho recebido propostas para levá-los até a escolas de samba. É preciso entender que os Stones virão para fazer um show na praia. O resto é decisão pessoal deles, não passa por mim.”

Para montar o palco de 24 metros de altura, correspondente a um prédio de oito andares, a produção teve de trazer operários ingleses, o que gerou um fato insólito: como eles não entendem uma palavra em português, foram contratados intérpretes para os peões britânicos. O cenário que será montado é especial para a América do Sul, todo inspirado no Brasil, com muitas plantas e luzes coloridas. A superprodução inclui uma esteira rolante que levará os músicos para um pequeno palco no meio do público e uma língua inflável de dez metros de comprimento, além de muito efeito especial e 16 gigantescas torres com capacidade para projetar o som a 900 metros de distância do palco. O custo total da noite é de aproximadamente R$ 10 milhões, sendo que a Prefeitura do Rio investiu 16,67%, o equivalente a R$ 1.684.500. O prefeito Cesar Maia comemora: “Somando os 40 shows anteriores dessa banda, ela atraiu um milhão de pessoas. Aqui vai atrair mais em uma única noite.”

A socialite Renata Dechamps e sua filha, a atriz Alexia Dechamps, verão o show e vão reencontrar um velho amigo. Alexia era pequena quando sua mãe hospedou Mick Jagger em Búzios em 1976. Na época, foi feito um vídeo caseiro com o roqueiro tocando violão. “Ele gostava de comer feijão”, diz Alexia. “Nossa casa ficava perto de um barraco onde moravam uns bêbados. Os bebuns caprichavam na batucada e o Mick foi batucar com eles.” Elas assistirão ao espetáculo na área vip com cerca de quatro mil convidados – entre eles Fernanda Montenegro, Nizan Guanaes, Rita Lee, ministros, políticos e empresários. Mas poucos poderão pisar a passarela que liga o Copacabana Palace ao palco. Vip para valer, e que poderá circular por onde quiser, somente o garoto Lucas, de seis anos. Se ele for, claro. Filho de Jagger com a apresentadora Luciana Gimenez, ele terá acesso aos bastidores enquanto a mágica boca de seu pai canta e encanta o Brasil.