A vida do executivo Arthur Martinez, 36 anos, sofreu uma grande guinada nos últimos 15 dias. Depois do nascimento prematuro das filhas Nicolle e Karoline, em dezembro, ele decidiu bloquear os compromissos profissionais para ficar mais perto delas, dentro da unidade de terapia intensiva (uti) do berçário do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. Três vezes por semana, Arthur chega cedo, troca a camisa por um roupão verde e se acomoda para ninar as bebês durante três horas ininterruptas. Uma por vez, elas são tiradas pelas enfermeiras da incubadora da uti e colocadas em contato direto com a pele do pai, na posição vertical, envolvidas por um tecido que as mantêm aquecidas e firmes. Enquanto Karoline fica aos cuidados do pai, Nicolle ressona nos braços da mãe, Cibele. Esse recurso, chamado de Método Canguru, faz parte do atendimento a bebês nascidos com baixo peso em muitas maternidades da rede pública (o Ministério da Saúde promove sua implantação) e alguns hospitais particulares no País. A diferença é que, na maioria dos casos, é a mãe quem costuma dar colo.

A iniciativa do Hospital e Maternidade São Luiz de estimular a participação do pai na recuperação dos bebês também ajuda a derrubar mitos. “No começo, tive receio de pegar uma criança tão pequena e frágil. Achava que só a mãe saberia como fazer isso direito. Mas foi uma experiência emocionante. Estou muito feliz de ter a chance de aprender a compreender as expressões das minhas filhas”, afirma Arthur. “Os pais ficam um pouco inseguros, mas querem participar”, conta a enfermeira Mônica Nóbrega, do São Luiz.

O Método Canguru não substitui a incubadora e a necessidade de terapia intensiva para bebês nascidos com baixo peso, mas os especialistas concordam que a técnica humaniza o atendimento e acalma o stress da criança e da familia. “Os bebês em condições de ter o contato pele a pele com os pais ganham peso mais rápido, cerca de 20 a 30 gramas por dia”, sustenta a enfermeira Ana Paula Guareschi, do Grupo de Humanização da UTI do Hospital. Um dos critérios para conquistar um colinho é o bebê respirar sem auxílio de aparelhos. A iniciativa também ajuda quando o bebê sair da maternidade.“A proximidade com a criança dentro da uti dá mais tranquilidade aos pais para cuidarem dela quando for para casa”, afirma a médica neonatologista Wanda Tobias Marino, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.