A União Europeia (UE) lançou, nesta quarta-feira (24), na cidade belga de Antuérpia, principal porta de entrada da cocaína no continente, uma “aliança de portos” para harmonizar as medidas de segurança contra o tráfico de droga e combater a infiltração de redes criminosas.

“Faz falta uma rede para combater uma rede. A vitória sobre os criminosos em um único porto só os deslocará para outros portos”, disse a comissária europeia de Assuntos Internos, Ylva Johansson.

A cocaína procedente da América Latina inunda o mercado europeu. As apreensões disparam, mas “os preços [de venda] nas ruas caem, o que demonstra que esta droga está muito presente”, disse a comissária sueca.

A aliança se propõe a criar uma colaboração entre autoridades portuárias, alfandegárias, policiais e empresas de transporte marítimo.

Dezesseis dos principais portos europeus de contêineres participaram do lançamento da iniciativa, entre eles Roterdã (Países Baixos), Hamburgo (Alemanha), Algeciras (Espanha), Marselha (França) e Antuérpia (Bélgica).

“A complexidade da paisagem criminosa não para de crescer. Para mim, é evidente que não vamos conseguir [freá-la] se nos concentrarmos unicamente em nível nacional”, disse a ministra do Interior da Bélgica, Anneliese Verlinden.

Os grandes portos são alvo de máfias locais, que não hesitam em corromper estivadores, transportadores, despachantes alfandegários, ou policiais, para que seus subordinados retirem drogas dos contêineres.

Em Antuérpia, as apreensões bateram recorde em 2023, com 116 toneladas interceptadas.

O aumento do tráfico neste porto colossal é consequência do reforço das medidas de segurança no de Roterdã, nos vizinhos Países Baixos, afirmou Johansson.

“Agora, Antuérpia intensifica [a luta antidroga] e parece que o tráfico vai para portos menores. Por exemplo, há indícios de que chega mais droga a Helsingborg, na Suécia”, afirmou.

É um fenômeno parecido ao ocorrido no ponto de origem da droga na América Latina, afirmou.

As medidas tomadas nos portos colombianos transformaram a cidade equatoriana de Guayaquil na principal exportadora para a Europa da cocaína produzida nos vizinhos Colômbia e Peru.

Na UE, quase 70% das apreensões de drogas realizadas nas alfândegas ocorrem nos portos.

– Medo do fentanil –

“Precisamos de mais cooperação, não apenas com a polícia e com as alfândegas, mas também com os atores privados nos portos”, defendeu Johansson.

O fenômeno da corrupção ligada ao narcotráfico nessas infraestruturas “também é um risco para o comércio legal” e “ninguém quer isso”, acrescentou.

Dentro desta aliança, os participantes vão trocar informações e boas práticas para aumentar a segurança nos portos, mapear fluxos e desmantelar redes criminosas.

A UE vai aportar 200 milhões de euros (cerca de 1 bilhão de reais) para que os serviços de alfândega adquiram equipamento moderno para escanear contêineres.

Além da chegada de contêineres aos grandes portos do norte da Europa, outra modalidade operacional consiste no envio das drogas para o norte ou oeste da África, onde são colocadas em embarcações menores que costumam levar essa carga para a costa de Espanha, explicou a comissária europeia.

Junto com a cocaína, as autoridades públicas se preocupam com o aumento do tráfico de drogas sintéticas.

O ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, destacou que entorpecentes como as anfetaminas ou o ecstasy “estão fazendo nascer uma nova rede criminosa europeia”. Nesse sentido, fez um apelo por uma estratégia comum “especialmente para evitar que o fentanil chegue à Europa”.

Este potente opioide sintético, fabricado com componentes muitas vezes importados da China, causa dezenas de milhares de overdoses todos os anos nos Estados Unidos, onde foi introduzido por cartéis mexicanos.

Embora a presença do fentanil na Europa seja “muito fraca” por enquanto, Johansson destacou que muitas outras drogas sintéticas são fabricadas na UE, que é um “exportador líquido para o resto do mundo”.

“Desmantelamos 400 laboratórios todos os anos, é algo que realmente me preocupa”, declarou a comissária, alertando que os traficantes europeus “adquiriram dos cartéis mexicanos o conhecimento” necessário para produzir fentanil.

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