Um temporal que se desloca pelo Sudeste deixou 11 mortos, a maioria na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, onde autoridades se mobilizavam neste sábado (23) frente à situação crítica.

O governo do Rio confirmou quatro mortos no desabamento de uma casa e um pequeno prédio em Petrópolis, a cerca de 70 quilômetros da capital.

Uma equipe da AFP acompanhou na manhã de hoje o resgate de uma menina que passou 16 horas soterrada, e a descoberta do corpo do pai da criança, segundo confirmado por diferentes fontes.

“O pai protegeu heroicamente a menina com o corpo e ela foi tirada com vida. Estamos agradecidos por esse milagre de a menina estar viva”, disse à AFP Luis Claudio de Souza, 63 anos, dono de um bar.

O estado do Rio registrou sete mortes provocadas pela chuva desde ontem, incluindo Teresópolis, Santa Cruz da Serra e Arraial do Cabo, informou o governo. Já a Defesa Civil do Espírito Santo confirmou na tarde de hoje quatro mortos no sul do estado.

A gravidade das inundações foi retratada em imagens aéreas da localidade de Mimoso do Sul divulgadas pelo corpo de bombeiros do estado. A imprensa local mostrou carros e um caminhão dos bombeiros sendo arrastados pela água.

No litoral de São Paulo, houve rajadas de vento e fortes chuvas ontem, quando duas crianças foram internadas após ficarem feridas em incidentes diferentes.

As tempestades se devem à chegada de uma frente fria que causou estragos no Rio Grande do Sul durante a semana e depois atingiu São Paulo e o Rio de Janeiro, antes de chegar ao Espírito Santo, explicaram meteorologistas do Inmet.

– Tragédia repetida –

Dezenas de militares e bombeiros com o auxílio de cães farejadores trabalharam em Petrópolis debaixo de uma chuva intensa, sobre uma montanha de escombros. O governador Cláudio Castro descreveu uma situação crítica na cidade histórica, que se declarou em emergência devido às chuvas.

Imagens divulgadas pela imprensa local mostravam rios de água e lama descendo pelas encostas de Petrópolis, destino turístico que ainda guarda frescas lembranças de uma tempestade que deixou 241 mortos em fevereiro de 2022.

Parte do cemitério municipal foi devastada pelas águas, observou a AFP neste sábado. Veículos de emergência circulavam desde cedo para atender à população, que continuava enfrentando riscos “muito altos” de novos deslizamentos, segundo autoridades.

Cerca de 90 pessoas foram resgatadas desde ontem e escolas públicas foram habilitadas como abrigos, informou um comitê de emergência do governo do Rio, em conjunto com os Bombeiros e a Defesa Civil. Brigadas de apoio federais também atuam nas áreas afetadas.

– Clima severo –

Ainda estavam previstas precipitações fortes no norte do Rio e na Região Serrana, onde Petrópolis registrou 300 milímetros em 24 horas e outras cidades, como Teresópolis e Magé, somaram mais de 220 milímetros, segundo estimativas oficiais.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) antecipava um “clima severo” no Sudeste, principalmente no Rio de Janeiro, com cerca de 200 milímetros de chuva por dia entre ontem e amanhã. Esse volume supera a média histórica de 141,5 milímetros para todo o mês de março.

O alerta permanece em vigor até amanhã no Sudeste do país, após uma onda de calor elevar nos últimos dias a sensação térmica para um recorde de 62,3 ºC no Rio de Janeiro no último domingo e gerar os maiores registros em São Paulo para o mês de março.

O país vem sofrendo nos últimos tempos com fenômenos extremos que especialistas relacionam às mudanças climáticas, entre eles tempestades, secas e recordes de calor, que têm forte impacto sobre a população mais vulnerável.

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