UP THERE – REGINA SILVEIRA / Farol Santander, SP / até 2/5

A ficção científica é um gênero pouco explorado na literatura brasileira, considerado menor. No cinema, como depende de recursos, é incomum, e nas artes visuais é um estranho completo. Mas a ilusão, a fantasia e a distopia são constantes na obra de Regina Silveira, desde seus primeiros questionamentos sobre a natureza da representação visual, nas suas famosas distorções projetivas de sombras e arquiteturas, realizadas nos anos 1980. No embalo de seu aniversário de 80 anos, completados em janeiro, a artista inaugurou em São Paulo a instalação imersiva “Up There” (2018), em que reflete sobre tempo e espaço, e se prepara para uma longa série de exposições internacionais em 2019.

INVENÇÕES Regina Silveira propõe novos padrões para a percepção da realidade. Planetas de pedra (acima) flutuam na
nova instalação “Up There” (Crédito:Divulgação)

“Up There” integra a mostra de arte imersiva “Além do Infinito”, com curadoria de Facundo Guerra, no Farol Santander, antigo edifício Banespa.

É uma obra cinemática que faz uma intervenção na arquitetura da sala do 22º andar do prédio de 1947, ocupando paredes e janelas com projeções de nuvens e planetas feitos de pedra. Oferece ao visitante uma experiência virtual de navegação de três minutos dentro de uma espécie de elevador cósmico, em movimento ascendente e descendente, da Terra ao espaço sideral e de volta à Terra, ciclicamente. “É um percurso curto. Era a resposta possível à situação espacial do edifício: um lugar estreito para olhar o céu”, diz Regina Silveira à Istoé. “Não é uma fuga. É uma forma de pensar iconicamente sobre o tempo”.

A artista aponta que essa “família” de trabalhos reflexivos e poéticos surgiu na virada do milênio, quando sua pesquisa com incidência de luz e sombra sobre objetos levou-a incorporar o tempo como mais uma dimensão da obra. Na arqueologia das ficções de Regina Silveira estão trabalhos como “Mirante” (2007), animação 3D em que o planeta feito de pedra pomes é avistado no fundo de um poço; ou “Odisseia” (2017), instalação de ambiente imersivo em realidade virtual, que oferece a experiência de passagem a um hipercubo labiríntico onde é possível caminhar sem gravidade.

O roteiro da viagem de Regina Silveira continua com importantes paradas em 2019. Em março, ela faz uma intervenção no Parque de Esculturas do Seattle Art Museum, nos EUA, ao lado de artistas de sua grandeza, como Richard Serra, Louise Bourgeois e Alexandre Calder. Em junho, faz individual na Alexander Gray Gallery, em Nova York; e no segundo semestre participa de mostra comemorativa sobre a queda do Muro de Berlim, na capital alemã, e faz a exposição de abertura da nova sede permanente do Paço das Artes, em São Paulo.