O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira, 7, que a manutenção do nível de corte da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual (pp) permite à instituição ganhar tempo para analisar um pouco mais o cenário.

Participante de evento do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis de São Paulo (Sescon-SP), Galípolo defendeu que a autarquia já foi bastante corajosa em indicar a manutenção do ritmo nas próximas reuniões. “Tentar cruzar essa linha e avançar um pouco mais no forward guidance pode ser danoso para a autoridade monetária.”

O diretor do BC reforçou que o cenário atual é de maior incerteza. Há, por um lado, um ambiente mais benigno doméstico de inflação, mas, por outro, uma maior adversidade internacional, reiterou.

Efeito do câmbio

Galípolo frisou que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada mais cedo sinaliza a taxa de câmbio como o principal transmissor da instabilidade externa para a economia doméstica. Por ora, no entanto, apesar do aumento de adversidades no ambiente internacional, o câmbio vem se comportando relativamente bem, emendou.

Ele afirmou que, há alguns meses, se um “viajante do tempo” o tivesse avisado que haveria uma abertura grande das taxas de juros longas americanas e uma guerra no Oriente Médio, ele apostaria em um câmbio muito mais depreciado e um preço de petróleo mais elevado do que vemos hoje.

O economista ponderou que a surpresa com a correlação entre variáveis econômicas, porém, não é uma “jabuticaba” brasileira, e que vários outros países estão sofrendo para interpretar algumas correlações, a exemplo dos apertos monetários e dos mercados de trabalho ainda resilientes.

O diretor do BC pontuou que o cenário doméstico segue apresentando uma evolução benigna, com destaque para a inflação. Por outro lado, o cenário externo está mais desafiador quando comparado ao passado recente, principalmente devido a abertura dos Treasuries americanos.

Galípolo destacou que há dúvidas sobre como esse ambiente internacional irá se comportar. Sobre os Estados Unidos, o economista chamou atenção para a necessidade de financiamento do Tesouro norte-americano que, somado o esforço fiscal feito nos últimos anos com o juro mais elevado, está com uma necessidade de financiamento mensal em torno de US$ 200 bilhões por mês.

Ele ponderou que há certo temor no país de que o nível de aperto sobre as taxas mais longas possa ter efeitos desafavoráveis sobre a liquidez americana e até gerar problemas de estabilidade financeira. Mas destacou que mudanças recentes na curva de juros dos EUA já passam a indicar uma chance maior de cortes do juro no ano que vem e uma possibilidade menor de aumentos residuais neste ano.

O economista também ressaltou como o cenário externo está predominando na análise doméstica. Ele citou, como exemplo, o desempenho positivo registrado pela Bolsa brasileira na semana passada, que, apesar do ruído fiscal doméstico, refletiu números mais fracos do mercado de trabalho americano, diante da perspectiva do mercado de que eles poderiam colaborar para um tempo menor de juros apertados nos EUA.