NEBULOSA CARINA Local de nascimento e de morte de várias estrelas da Via Láctea: picos fotografados têm, em média, uma altura de 7 anos-luz (Crédito:Divulgação)

O mundo parou para ver as primeiras observações científicas do Telescópio Espacial James Webb. As imagens e os dados divulgados pela Agência Espacial Norte-Americana  (Nasa), no último dia 12, marcam o início oficial das operações do aparelho de US$ 10 bilhões (R$ 54 bilhões) e mostram duas nebulosas, as gigantes nuvens de poeira e gás que pairam no espaço, um exoplaneta gasoso, e um grupo de galáxias a cerca de 290 milhões de anos-luz de distância. A nitidez do material demonstra o potencial do Webb e o consolida como herdeiro de sucesso do Hubble.tA primeira imagem, divulgada diretamente da Casa Branca na presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mostrou ao público o conglomerado de galáxias chamado de SMAC 0723 que representa o que os astrônomos chamam de “campo profundo”: uma imagem de um ponto no espaço, feita com longos tempos de exposição para que o instrumento possa realmente aproveitar qualquer luz recebida. O resultado é de tirar o fôlego e cada ponto iluminado tem uma história para contar. “Cem anos atrás achávamos que existia uma única galáxia. Agora, o número é ilimitado. São bilhões de galáxias, com bilhões de estrelas e bilhões de sóis”, explicou o administrador da Nasa, Bill Nelson.

Na transmissão, Nelson ressaltou a importância da alta capacidade de precisão do telescópio que permitirá entender se há condições de vida em outros planetas. “O James Webb permite identificar elementos químicos nas atmosferas de outros planetas e saber se eles são habitáveis”, explicou. Além de mostrar como o universo se formou, o dispositivo também ajudará a responder a uma das perguntas fundamentais da humanidade: estamos sozinhos no cosmos? Enquanto busca por planetas que tenham condições de abrigar formas de vida, o Webb funcionará como uma máquina do tempo mostrando as primeiras galáxias formadas há mais de 13,1 bilhões de anos, logo após o Big Bang.

Isso acontece porque apesar de a luz viajar a cerca de 300 mil quilômetros por segundo, as distâncias no espaço são muito grandes. Ou seja, quanto mais longe está um objeto, mais tempo a luz teve de viajar para chegar até nós. É por isso que os objetos mais distantes que o Webb consegue fotografar são da época do nascimento do universo. São fotografias de um passado distante. O astrônomo e professor de astrofísica Daniel Rutkowski, fundador da plataforma de ensino AstroAulas, diz que sempre que olhamos para o espaço, olhamos para o passado. “Quando vemos o nosso sol, estamos observando uma imagem de oito minutos atrás, que foi o tempo que a luz demorou a chegar até nós”, diz. Ele explica que um dos trunfos do James Webb em relação ao Hubble são os registros em luz infravermelha, aquela que os olhos humanos não captam. “Como o universo está se expandindo, captar a radiação é muito importante, por isso conseguimos ver mais longe”, diz. Segundo ele, a possibilidade de explicar questões para as quais a física ainda não tem muito conhecimento, como a energia e matéria escuras, também é uma das promessas do novo telescópio.

CASA BRANCA A primeria imagem, do conglomerado de galáxias SMAC 0723, foi relevada pelo presidente Joe Biden (Crédito:NASA/Bill Ingalls)

Cem anos atrás achávamos que existia uma única galáxia. Agora, o número é ilimitado. São bilhões de galáxias, com bilhões de estrelas e de sóis” Bill Nelson, administrador da Nasa

Entre as cinco imagens mais fascinantes do James Webb está o registro do quinteto de Stephen, grupo de cinco galáxias localizado a 290 anos-luz da Terra, na constelação Pégaso. É a maior imagem tirada pelo telescópio, cobrindo o equivalente a um quinto do diâmetro da Lua e composta por mais de mil arquivos separados. Já a Nebulosa Carina é, ao mesmo tempo, um berçário e cemitério para várias estrelas da Via Láctea e mostra uma área gasosa onde os picos fotografados têm, em média, uma altura de 7 anos-luz. É uma das nebulosas mais brilhantes do céu e sua imagem já havia sido explorada, em menor resolução e detalhamento, pelo Hubble. A nova foto revelou estruturas que os astrônomos deverão explicar, já que estão sendo vistas pela primeira vez. E isso é só o começo, muitas descobertas ainda estão por vir: o telescópio tem combustível suficiente para permanecer em funcionamento por 20 anos. E tudo indica que será uma rica e longa jornada.