O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, iniciou sua primeira viagem ao exterior nesta segunda-feira (19) com uma visita à Alemanha, um parceiro cada vez mais crucial para Pequim, em meio à crescente desconfiança do Ocidente.

Li foi recebido pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, embora o encontro mais importante esteja programado para terça-feira, quando se reunirá com o chefe de Governo Olaf Scholz.

O presidente alemão deu o tom do encontro com o líder chinês: a cooperação entre os dois países “continua sendo importante, mas mudou nos últimos anos”, disse Steinmeier, segundo tuítes de seu porta-voz, Cerstin Gammelin.

“A China é parceira da Alemanha e da Europa, mas também cada vez mais uma concorrente e rival no cenário político”, acrescentou.

Depois da Alemanha, Li Quiang, nomeado em março, visitará a França para um encontro de cúpula sobre um novo pacto financeiro global.

As visitas a Paris e Berlim acontecem no momento em que relações entre Pequim e Washington estão especialmente tensas.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, que visita Pequim para tentar acalmar a situação, reuniu-se nesta segunda-feira com o presidente chinês, Xi Jinping.

Para a Alemanha, as relações entre China e Estados Unidos são de grande importância “para a segurança e a cooperação mundial”, destacou Steinmeier, que pediu à duas potências que “reforcem seus canais de comunicação”.

– Diversificar –

A China citou a “importância” que atribui às relações com a Alemanha e expressou sua “esperança de aprofundar e expandir as relações” com Berlim.

Mas a estratégia de segurança nacional da Alemanha, anunciada recentemente, faz críticas duras à China.

O documento acusa Pequim de agir contra os interesses alemães ao colocar a segurança “sob pressão crescente” e de não respeitar os direitos humanos.

Ao mesmo tempo, ressalta a necessidade de cooperação da China em questões globais, como o combate à mudança climática.

Scholz esclareceu que a mensagem do documento de segurança é que “a integração da China ao mundo comercial e às relações econômicas mundiais não deve ser impedida”.

“Mas, ao mesmo tempo, as questões de segurança que surgem para nós precisam ser consideradas”, acrescentou.

No entanto, a China não gostou de ser rotulada de “rival sistêmica” pela Alemanha.

“Ver os outros como concorrentes, rivais ou mesmo adversários, e transformar a cooperação normal em questões de segurança ou políticas só levará nosso relacionamento a um turbilhão de divisões e confrontos”, alertou o porta-voz diplomático chinês, Wang Wenbin.

Devido ao seu peso econômico, a Alemanha tem uma relação especial com a China.

Durante o governo da ex-chanceler Angela Merkel, Berlim aproveitou as oportunidades econômicas enquanto questionava os direitos humanos e a falta de liberdade.

Mas a guerra russa na Ucrânia levou a uma transformação nas relações econômicas.

A China se recusou a se distanciar do presidente russo, Vladimir Putin, levantando temores no Ocidente sobre seus motivos e confiabilidade.

A Comissão Europeia alertou na semana passada que as gigantes chinesas de telecomunicações Huawei e ZTE são um risco para a segurança europeia e que deixará de usar serviços que dependem dessas empresas.

As autoridades alemãs já falam em diversificação, em busca de parceiros além das grandes potências mundiais.

Essa mudança de atitude na Europa ocorre em um momento em que a China vive uma desaceleração econômica.

A queda nas exportações e a demanda interna atingiram a economia do gigante asiático.

Portanto, não surpreende que Li tenha escolhido a Alemanha como sua primeira visita internacional, segundo analistas.

Thorsten Benner, diretor do Instituto Global de Políticas Públicas, disse à AFP que “à medida que as relações com os Estados Unidos se deterioram, Pequim está interessada em mostrar que mantém relações construtivas com o principal ator da Europa”.

Pequim poderia aproveitar a oportunidade para “impulsionar políticas que dividem” a Europa e os Estados Unidos, acrescentou.

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