Os países em desenvolvimento pediram, nesta segunda-feira (18), na ONU, o cumprimento dos objetivos de reorganização da ordem mundial e do sistema financeiro para ajudar as nações mais pobres do mundo, vítimas de uma enxurrada de crises sem precedentes, a terem um futuro melhor.

Em um contexto de tensões geopolíticas sem precedentes em décadas, essa cúpula sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), antecede a Assembleia Geral da ONU, da qual vai participar, pela primeira vez, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

A presença de Zelensky, recém-chegado a Nova York, pode ofuscar os objetivos e preocupações urgentes dos países do Sul Global.

O futuro dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados pelos Estados-membros da ONU em 2015 para alcançar um futuro melhor e mais sustentável para “mais de metade do mundo” até 2030, é crítico – ainda mais para aqueles que sofrem as consequências da guerra na Ucrânia.

Esses objetivos “encarnam as esperanças, os sonhos, as aspirações e as expectativas das pessoas de todo o mundo”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Chegou a hora de vocês serem ouvidos”, disse ele aos presentes.

Na metade do caminho, apenas 15% dos 17 ODS estão na direção certa, muitos se encontram estagnados, e outros estão em retrocesso.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que se as coisas continuarem como agora, “1,9 bilhão de crianças em 140 países” serão deixadas para trás.

– “Mancha espantosa” –

“No nosso mundo de abundância, a fome é uma mancha espantosa para a humanidade e uma violação épica dos direitos humanos”, frisou Guterres.

Sair da pobreza, ter acesso à educação, à água potável, à energia limpa, ter boa saúde, combater a mudança climática, ou alcançar sociedades pacíficas são objetivos de desenvolvimento que estão inter-relacionados.

Os dirigentes sofrem pressão da “tribo dos jovens”. “Se não respeitarem seus compromissos de limitar o aquecimento global abaixo de +1,5°C (…), estarão pondo em risco a vida e o futuro da nossa geração, assim como dos que virão depois de nós”, lembrou a jovem ativista sudanesa Mayada Adil.

– Mudanças –

As múltiplas crises que surgiram nos últimos anos – a pandemia da covid-19, as catástrofes climáticas, a guerra na Ucrânia e o impacto em cascata nos preços da energia e dos alimentos – ameaçam esses objetivos.

Nesse contexto, o presidente colombiano, Gustavo Petro, propôs duas conferências de paz, porque a guerra “tira tempo para pensarmos”: uma, sobre a guerra na Ucrânia; e outra, para resolver o conflito palestino.

Da mesma forma, insistiu em que a reestruturação do sistema financeiro multilateral é um “imperativo categórico” para a humanidade, dado o peso da dívida, assim como a criação de uma espécie de “Plano Marshall” para enfrentar a crise climática.

Esta é uma demanda manifesta, também, na declaração adotada por consenso, na qual os Estados-membros se comprometem a “agir sem demora” para concretizar este “plano de ação para as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria, não deixando ninguém para trás”.

“No final das contas, a concretização dos ODS depende de uma reforma fundamental das relações econômicas e políticas”, disse o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

Segundo a declaração, serão necessários cerca de 500 bilhões de dólares (R$ 2,4 trilhões, na cotação atual) ao ano para alcançar os ODS.

O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou um aumento em até 120 milhões de euros (R$ 622 milhões de euros, na cotação atual) da contribuição da Espanha ao Fundo Conjunto ODS.

– “Os mais vulneráveis” –

Ante reivindicações e ressentimentos dos países do Sul Global, os diplomatas ocidentais lembram que o desenvolvimento é a sua prioridade nesta dança diplomática mundial.

“Os mais vulneráveis no mundo olham para nós, como esta jovem que conheci no Chade na semana passada, que fugiu da violência impensável no Sudão”, disse a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield. “Esta jovem conta conosco”, completou.

“Há uma distância crescente entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido”, reconheceu um diplomata europeu.

É preciso “garantir que esta distância não cresça ainda mais”, completou, ao mesmo tempo em que admitiu que a guerra na Ucrânia “rouba a atenção política e econômica de problemas mundiais urgentes, como a segurança alimentar, as catástrofes climáticas, as desigualdades, ou o acesso ao financiamento”.

Mas estas questões existenciais, em particular no caso dos países mais pobres, correm o risco de serem ofuscadas esta semana pela presença, pela primeira vez, do presidente da Ucrânia na tribuna da ONU na terça-feira, antes de um Conselho de Segurança dedicado ao seu país no dia seguinte.

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