Três familiares mortos e outros sete, entre eles três crianças, supostamente sequestrados pelo Hamas ou desaparecidos. Os netos da escultora judia Chana Orloff (1888-1968) relatam à AFP, em Paris, a sua insuportável espera.

A família dessa escultora vanguardista, cujos bens foram espoliados pelos nazistas em 1943, faz parte dos fundadores do kibutz de Beeri, a quatro quilômetros da fronteira com Gaza.

A localidade sofreu um dos piores massacres do ataque cometido pelo Hamas em 7 de outubro: 85 dos seus habitantes foram assassinados e 30 estão desaparecidos ou sequestrados pelo Hamas. Entre eles, há vários membros da família Orloff.

“O mais importante agora é a defesa desses reféns, gente inocente”, disse Eric Justman, de 70 anos.

“Pedimos que a Cruz Vermelha possa vê-los e (obtenha) provas de vida”, acrescenta sua irmã Ariane Tamir, de 75 anos, no ateliê-museu Chana Orloff, onde são expostas as esculturas de bronze e madeira criadas por sua avó.

No âmbito das negociações com o Hamas, Israel forneceu às famílias afetadas uma primeira lista das pessoas que deveriam ser liberadas pelo movimento palestino.

Nela não aparece “nenhum” de seus parentes, explicam em uma entrevista concedida na sexta-feira depois das primeiras libertações realizadas em virtude da trégua temporária entre Israel e Hamas.

Em 7 de outubro, sua família, entre eles três crianças de 3, 8 e 12 anos, estavam reunidos para um “dia de festa” no kibutz de Beeri, fundado em 1946 pela sobrinha de Chana Orloff e seu marido.

“Três estão mortos, temos certeza disso”, conta Justman.

“As sete pessoas de quem não temos notícias não foram identificadas e não temos a certeza de que estejam sequestradas”, explica Tamir.

Possuem somente o relato de uma testemunha, segundo a qual um deles foi “atirado no porta-malas de um veículo que ia em direção a Gaza”.

– “Ecos da história” –

A atualidade reabre as feridas de uma história familiar marcada por uma série de perseguições, justo no momento em que a obra da escultora protagoniza duas exposições em Paris.

“Estamos ativos, nos comunicamos o máximo possível. É como uma garrafa lançada ao mar que vai contribuir para sua libertação e para sua boa saúde. Quanto mais falarmos sobre os reféns, mais coragem terão e menos opções haverá de serem mortos pelo Hamas”, diz Eric Justman.

Sua irmã vê “ecos da história” nesse “drama terrível”, que “atingiu militantes pela paz, opostos a Netanyahu e a suas colônias” em território palestino.

“Na casa de minha prima Shoshan que foi explodida e queimada, e da qual levaram todos os habitantes, havia uma estátua de bronze de Chana Orloff e, segundo as imagens que vimos, não há rastro dela, também a levaram”, conta.

Exilada da Ucrânia para a França em 1905, junto de sua família, Chana Orloff escapou por pouco ao ataque do Velódromo de Inverno organizado contra os judeus em Paris e fugiu para a Suíça em 1942. Um ano depois, todos os seus bens foram saqueados pelos nazistas.

“Esta família Orloff, com seus oito filhos (um dos quais morreu na Ucrânia antes do exílio), deixou esse país pelos pogroms. Uma parte dela sofreu agora outro pogrom de uma violência inimaginável com a ideia de um extermínio que pode recordar a Shoah”, assegura a neta da artista.

Entre as esculturas que a rodeiam, um urso de bronze briga com uma pomba: “Quando olho agora esta obra, digo para mim mesma que a pomba está em má situação”.

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