RESUMO

• Vários e-commerces investem em lojas físicas nos países mais diversos
• Brasil também vê 
expansão do varejo tradicional
• Fenômeno é tendência global pela busca da conveniência e experiência do cliente
• Consumidor cada vez mais procura estabelecimentos para compras presenciais 

 

O Enjoei, plataforma brasileira de comércio eletrônico, causou uma agitação no mercado nos últimos dias de 2023 ao adquirir 25% da rede de franquias Cresci e Perdi, considerada uma das maiores redes de franquias de produtos infantis de segunda mão no Brasil. “Uma das principais motivações para essa migração para o espaço físico é a necessidade de estar presente onde o cliente está”, afirma Vinicius Meneguin, especialista no varejo físico e digital. Segundo o especialista, em um contexto ‘Omnichannel’ as empresas buscam integrar seus canais de venda para atender às demandas dos consumidores, que muitas vezes desejam adquirir produtos instantaneamente ou preferem experimentá-los antes da compra. “Além disso, a possibilidade de devolver ou trocar um produto em uma loja física também desempenha um papel fundamental na decisão de investir nesse tipo de estabelecimento”, completa Meneguin.

A rede de brechós Peça Rara, que tem a atriz Deborah Secco como uma de suas sócias, é um exemplo do que o especialista aponta. Em pouco mais de dois anos de expansão, a rede alcançou 165 lojas em 23 estados e no Distrito Federal, apostando no relacionamento interpessoal como seu principal segredo de sucesso. “Fizemos de nossas lojas um lugar muito convidativo e acolhedor. Investimos no relacionamento com nossos clientes e fornecedores”, declara Bruna Vasconi, fundadora e CEO da rede de franquias.

Loja da rede Peça Rara recém inaugurada no centro de São Paulo (Crédito:Divulgação )

A onda de investimentos não para por aí.

A fast fashion chinesa Shein também tem apostado em lojas físicas no Brasil, só que no modelo pop-up.

A Taco Bell, rede californiana com cardápio inspirado na culinária mexicana, planeja abrir 30 filiais somente este ano e pretende tornar o Brasil o segundo País com o maior número de lojas fora dos EUA.

Além disso, a cada piscar de olhos, uma nova loja da rede mexicana de lojas de conveniência Oxxo surge em cada esquina.

As marcas esportivas Topper e Rainha também planejam inaugurar 15 novas lojas físicas até o fim de 2024, nos formatos de unidades de ruas, shopping centers e contêineres. A iniciativa faz parte do movimento estratégico da BR Sports – controladora das duas marcas no Brasil – para ganhar capilaridade em algumas capitais. Mais de R$ 3 milhões devem movimentar a economia local, com a geração de mais de 100 empregos diretos.

Outro aspecto crucial para esse boom de lojas físicas é a visibilidade e credibilidade que elas conferem às marcas. “Ao terem uma presença tangível, as empresas geram confiança nos consumidores, que se sentem mais seguros ao saberem que possuem um local físico para receber assistência personalizada. Além disso, as lojas físicas oferecem uma oportunidade única de engajar consumidores que ainda não aderiram totalmente ao ambiente digital, ampliando o alcance da marca”, explica Maurício Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da FGV.

Além disso, a presença física no varejo possibilita uma divulgação mais ampla da marca e fortalece seu posicionamento no mercado.

A Shein, por exemplo, que é uma empresa 100% digital, enxergou no modelo pop-up uma ótima oportunidade de levar aos seus consumidores uma experiência de marca diferenciada. “A presença física, mesmo que temporária, nos permite criar uma conexão ainda mais forte com os consumidores, bem como entender melhor suas necessidades e preferências”, declara a empresa em nota.

Loja da Shein inaugurada no Shopping Estação em Curitiba tem ingressos esgotados em tempo recorde (Crédito:Ore Huiying)

No total, a rede chinesa abriu no Brasil seis pop-ups. “É um movimento quase que pendular: as lojas físicas funcionam como um complemento para a operação, funcionando também como ferramentas de marketing, que ajudam a divulgar a marca. Mas o forte da operação deles é o online e não vão abrir muitas lojas por esse motivo”, avalia Morgado.

São estratégias complementares, afirma o especialista da FGV. “Muitas dessas empresas lançam essas lojas mais para funcionar como flagships – loja conceito – também”, explica.

Já a Taco Bell, sexta marca mais valiosa do mundo no segmento de restaurantes, possui mais de 30 unidades no Brasil e pretende alcançar a marca de 200 lojas no País até 2030. “Temos um trabalho intenso de popularização da marca. A expansão nacional, por meio de investidores nos grandes centros, permitirá que a marca se torne ainda mais conhecida”, revela Jeferson Mariotto, diretor de operações da companhia no País.

O executivo estima um investimento de R$ 36 milhões no País e prevê a geração de mais de 200 empregos diretos. “O Brasil oferece atrativos para o crescimento da rede, como a dimensão territorial, que permite a instalação de mais lojas, em um mercado de food service aquecido, com a abertura dos brasileiros para novidades nesse segmento”, destaca o executivo.

As iniciativas da Amazon

Loja da Amazon GO, em Nova Iorque. Modelo não tem caixas para atendimento mas possibilita proximidade com o cliente (Crédito:Spencer Platt)

Enquanto várias redes investem em novas unidades para criar uma proximidade com o cliente, a gigante Amazon está revendo sua política de abertura de lojas.

A Amazon Go, Amazon Fresh, Amazon Style e Whole Foods ainda têm um longo caminho a percorrer antes de serem consideradas um sucesso.

Desde a aquisição do Whole Foods, a receita da divisão de lojas físicas da empresa cresceu 10%, representando apenas 3,4% do total da empresa.

Além disso, a Amazon fechou lojas da Amazon Fresh recentemente e adiou a abertura de outras. “Muitas dessas empresas lançam lojas físicas para funcionarem como vitrines. A Amazon é um ótimo exemplo, nos Estados Unidos. Essas empresas que nasceram no mundo online estão testando diversas formas de manter o contato com o consumidor. Eles testaram vários formatos e vão fechando as que não funcionam”, pontua Maurício Morgado.