"ScholzPresidente ucraniano visita país europeu pela primeira vez desde o início da guerra. Relações entre Berlim e Kiev tiveram momentos de tensão no decorrer do conflito.A relação entre o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, é complexa. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, os dois líderes se encontram pessoalmente três vezes – a primeira em junho de 2022, em Kiev, muito depois de líderes de outros países terem estado na capital ucraniana após a invasão russa, a mais recente neste domingo (14/05) em Berlim.

O primeiro encontro dos dois foi precedido de uma intensa discussão entre Berlim e o então embaixador ucraniano na Alemanha, Andrij Melnyk. O diplomata pouco diplomático acusou o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, de ter ligações com Moscou e criticou a hesitação de Scholz em enviar armas à Ucrânia.

Steinmeier queria visitar Kiev, mas foi desconvidado. Quando o chanceler alemão cancelou uma viagem à capital ucraniana, Melnyk disse que ele estava se fazendo de ofendido. Durou semanas até que a poeira assentasse.

“A relação melhorou bastante”, avalia Henning Hoff, da Sociedade Alemã para Política Externa. O analista político tem certeza que a mudança de Melnyk para o “muito mais calmo e mais equilibrado” embaixador Oleksii Makeiev em outubro desempenhou um papel nesta melhora.

A troca do ministro da Defesa na Alemanha, de Christine Lambrecht para Boris Pistorius, também contribuiu para melhorar as relações entre Berlim e Kiev. “Pistorius é um ministro que diz claramente que o objetivo é uma vitória da Ucrânia”, pontua Hoff. Pistorius também garantiu o envio “oportuno e sem dificuldades” dos tanques de guerra Leopard 2 para a Ucrânia, acrescenta. “Esse é um outro tom, uma abordagem totalmente diferente”.

Armas: a questão fundamental para Zelenski

Em Berlim, Zelenski deve reiterar o pedido de mais e melhores armas – também mais munição, que se tornou uma de suas questões-chave. A Alemanha hesitou meses antes de aprovar o envio de armamentos pesados, como tanques e artilharia, para a Ucrânia. O envio de caças, no entanto, até agora foi descartado por Scholz. Outros países, como a Holanda, Dinamarca e Reino Unido, já avaliam disponibilizar a Kiev caças F-16.

Zelenski sabe que o apoio do Ocidente tem limites. A longa pausa desde as últimas operações militares ucranianas bem sucedidas entre agosto e novembro e o envio de tanques, que foi cuidadosamente arrancado dos aliados ocidentais, aumentaram a pressão. “Precisamos de um sucesso”, admitiu recentemente o presidente ucraniano.

“É um equívoco pensar que as forças ucranianas irão repentinamente retomar o país numa vitória fácil”, afirmou à emissora alemã ARD Wolfgang Ischinger, ex-embaixador da Alemanha nos EUA e ex-presidente da Conferência de Segurança de Munique. Ele disse ainda que não é uma questão de dias, mas um processo longo. “A Rússia presume que pode suportar isso. Está longe de acabar”, ressaltou.

Adesão à União Europeia e à Otan

Zelenski também espera do governo alemão um apoio maior para a adesão de seu país à União Europeia (UE) e à Otan.

Em junho do ano passado, a Ucrânia recebeu oficialmente o status de candidato para ingressar no bloco europeu. Em sua quinta visita a Kiev, em 9 de maio, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reiterou que o país “pertence à família europeia”. Palavras gentis, mas Zelenski não tem muito o que fazer com elas.

As exportações de grãos da Ucrânia são um problema. Agricultores de países do leste da UE, como Polônia e Bulgária, veem os preços baixos dos produtos agrícolas ucranianos como uma ameaça aos seus meios de subsistência – e seus governos introduziram proibições.

“O ingresso na UE não vai acontecer tão rápido como Kiev gostaria”, afirma Hoff. “A adesão à Otan é ainda mais complicada”, acrescenta.

Em setembro de 2022, a Ucrânia apresentou um pedido para acelerar o processo de adesão à aliança militar. “Durante a guerra, queremos deixar muita clara a mensagem de que iremos fazer parte da Otan depois da guerra”, disse Zelenski há poucos dias, em Haia.

Até agora, ele esperou em vão por uma mensagem clara. Há palavras encorajadoras dos países que fazem parte da aliança e do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, do tipo “as portas continuam abertas”. Mas não há nada de concreto, e, principalmente, não foi mencionado um possível cronograma.

Hoff avalia que o governo alemão não considera a adesão da Ucrânia à Otan uma boa ideia. “A ideia é assegurar que a segurança da Ucrânia seja garantida pela emissão de garantias de segurança. Mas ainda não está claro como isso deve ser”.

Prêmio Carlos Magno para o povo ucraniano

Na Alemanha, Zelenski irá receber para o povo ucraniano o Prêmio Carlos Magno. Entregue na cidade de Aachen, ele é considerado uma das honras mais importantes da Europa. Desde 1950, ele é atribuído a personalidades que contribuem para a unificação europeia.

“O desejo dos ucranianos de pertencer à UE nos mostrou na Europa mais uma vez o quão importante é o projeto europeu de unificação e que a Ucrânia está neste momento defendendo nossa liberdade e nosso modo de vida”, afirma Hoff. “Ele é um laureado muito digno, porque nos relembrou novamente o que está em jogo e o que tem que ser defendido”, acrescenta.