Mais de cinco anos depois do assassinato de Marielle Franco, então vereadora da cidade do Rio de Janeiro, um dos suspeitos confessou sua participação e um terceiro cúmplice foi preso, mas a investigação ainda precisa descobrir quem foram os autores intelectuais deste crime que causou comoção no Brasil e no exterior.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou, nesta segunda-feira (24), que a confissão de Élcio de Queiroz, ex-policial militar acusado de ter dirigido o veículo que levava o agressor, era de “enorme importância” e permitiria avançar para outro “patamar”.

– Como foi o assassinato?

Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram alvejados no dia 14 de março de 2018, por volta das 21h30, em uma rua do centro do Rio.

A então vereadora, uma mulher negra de 38 anos, voltava para casa após participar de um debate com jovens negras, quando seu carro foi baleado.

Os investigadores sustentam que os tiros foram disparados de outro veículo. Marielle foi atingida por pelo menos quatro disparos na cabeça e Anderson por três nas costas, segundo o boletim policial.

– Quem matou Marielle Franco?

Dois suspeitos foram presos um ano depois do crime, ambos ex-integrantes da Polícia Militar (PM): Ronnie Lessa, de 48 anos, apontado como autor dos disparos, e Élcio de Queiroz, de 46 anos, que teria atuado como motorista do carro de onde partiram os tiros.

Flávio Dino disse nesta segunda que Élcio de Queiroz havia negociado com as autoridades uma “delação premiada”, cujos detalhes são mantidos em sigilo. Em sua confissão, o suspeito confirmou, segundo Dino, “sua própria participação” e a de Ronnie Lessa no ataque.

Além disso, a delação de Queiroz levou a Polícia Federal (PF) a deter outro suspeito nesta segunda no Rio de Janeiro, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa.

Segundo os investigadores da PF, Corrêa teve “papel importante”, tanto “antes como depois do crime”, especialmente monitorando pessoalmente os movimentos de Marielle. A vereadora vinha sendo seguida desde agosto de 2017, ou seja, oito meses antes de ser baleada.

O ex-bombeiro já havia sido detido por este caso em 2020, depois de ser apontado como dono de um carro usado para esconder as armas usadas no crime. Ele estava em liberdade condicional.

Ronnie Lessa vivia no mesmo condomínio residencial do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, na época do crime, exercia o cargo de deputado federal. O ex-presidente nega qualquer vínculo com o tema e a investigação jamais o envolveu.

Lessa e Queiroz também teriam vínculos com as milícias paramilitares que dominam e aterrorizam várias comunidades da cidade.

Essas milícias, formadas por ex-policiais e outros agentes do estado, surgiram no Rio há cerca de duas décadas. Supostamente criadas para libertar as favelas do jugo dos narcotraficantes, acabaram se transformando em máfias que cobram caros tributos em troca de “proteção”.

Seus abusos foram denunciados em várias ocasiões por Marielle.

– Quem ordenou o crime?

Até agora, ninguém foi acusado oficialmente como autor intelectual do assassinato.

Em março de 2019, o Ministério Público do Rio de Janeiro considerou “indiscutível que Marielle Franco foi vítima de uma execução sumária devido à sua atividade política e às causas que defendia”.

Nesta segunda, um promotor confirmou essa linha de investigação, mas detalhou que isso “não exclui outras motivações”.

Marielle militava contra os crimes das milícias, mas também contra a violência policial e pelos direitos dos moradores das favelas, especialmente os jovens negros, as mulheres e integrantes da comunidade LGBTQIA+.

Dino afirmou hoje que era “indiscutível” a “participação de outras pessoas” no crime, para além dos três suspeitos detidos, e que “as novas provas colhidas indicam […] que há forte vinculação desses homicídios, especialmente o da vereadora Marielle, com a atuação das milícias e do crime organizado no Rio de Janeiro”.

O ministro também disse ter esperança de que a delação de Élcio de Queiroz levará aos autores intelectuais do assassinato de Marielle.

Os nomes de diversos políticos do Rio ligados às milícias foram citados na imprensa com base em vazamentos de informações da investigação, mas nenhum deles foi acusado formalmente.

A investigação permaneceu por muito tempo nas mãos do MP do Rio de Janeiro, mas passou a ser conduzida pela PF em fevereiro, um mês depois da volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

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