“As cores nos fazem enxergar por meio de uma perspectiva mais emocional e menos analítica” Marina Amaral, artista digital (Crédito:Divulgação)

Diante da artista digital mineira Marina Amaral, de 26 anos, até o mais discreto e menos curioso dos interlocutores não deixaria de perguntar:

– Por que você faz isso?

A resposta, de imediato, pareceria intelectualizada demais, até pernóstica, mas logo na sequência se revelaria o seu importante sentido histórico:

– É para presentificar o passado. Devolver-lhe vida e para a vida.

É mais que natural que o leitor e a leitora queiram rapidamente saber o que tanto faz Marina, a ponto de inspirar resposta, até poética. Pois bem, seguindo o seu privilegiado autodidatismo que a acompanha desde criança, Marina coloriza fotos de situações determinantes para a humanidade e de personagens históricos. Para ela, as cores são uma alternativa para a humanizar imagens do passado. A ideia de realizar esse tipo de trabalho foi de sua mãe historiadora que a educou em meio a livros didáticos e jamais a proibiu de mexer no computador. O tempo foi andando, Marina crescendo, até que ela tornou-se exímia em Photoshop. Daí para frente, retrato cinza ou preto e branco, desde que fosse importante, passou a ganhar cor.
Diante da imagem de um soldado da Guerra Civil dos EUA, Marina coloriu fotos pela primeira vez. O resultado final não foi o esperado, mas, ao ver o preto e o branco tomado por cores, ela soube que “trazer vida” é fundamental. “As cores nos fazem enxergar eventos por meio de uma perspectiva menos racional. Monta uma ponte emocional”. O nome de Marina ganhou prestígio internacional quando ela colocou cor sobre retratos feitos de pessoas que estavam à beira da morte em campos de extermínio nazistas.

RACISMO O retrato de uma mulher anônima foi o primeiro colorizado sobre a escravatura no Brasil: o sofrimento tem cor (Crédito:Divulgação)

Rostos do holocausto

Czeslawa Kwoka, adolescente de 14 anos assassinada com uma injeção letal no coração, em Auschiwitz, era um rosto preto e branco distante. Sofrido, mas distante. Angustiante, mas distante. Ainda assim, a foto, de 1943, não exprimia totalmente o sentimento de uma menina indefesa. Um ano depois de colorir o retrato de Czeslawa, nasceu o Faces of Auschwitz (Rostos de Auschwitz). O projeto é uma parceria de Marina com a instituição Auschwitz-Birkenau Museum, da Polônia. Por meio dele, desenvolveu-se um acervo digital com imagens colorizadas que também serviram de base para a produção de um documentário homônimo. “É difícil entender o que aconteceu de fato no holocausto quando só se fala em número de vítimas”, diz Marina. “Colorindo fotos, também já desbotadas pelo tempo, eu individualizo essas pessoas”. Outro projeto que conquistou destaque internacional é o seu livro “The Colour of Time: A New History of the World”, lançado em 2109 e elaborado conjuntamente com o historiador britânico Dan Jones. Apesar de todo o seu sucesso pessoal e contribuição à historiografia mundial, Marina segue a vida com humildade: é um rosto, até mesmo no Twitter, em preto e branco.